Fundação Cultural da Universidade de Coimbra propõe novas valências e filosofia

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Foto de Gonçalo Manuel Martins

 

Clara Almeida Santos, a atual responsável pela Fundação Cultural da Universidade de Coimbra, reconhece a necessidade de dinamizar antigas e novas unidades orgânicas, encontrando outras soluções para o seu financiamento. Em entrevista, a responsável assume a importância de trabalhar em rede e de instituir a regra de fazer pagar serviços culturais e desportivos.

A Fundação Cultural da Universidade de Coimbra pretende assumir-se com um papel cada vez mais ativo nas diversas áreas que tutela. Que novidades existem nessa área?

Uma primeira preocupação é olhar de uma forma sistemática as unidades orgânicas que já estavam na Fundação – o Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), o Estádio Universitário, o Auditório da Reitoria e o Palácio de S. Marcos –, que são, no fundo, em termos de infraestruturas, as que continuam. A ideia é olhar para aqueles espaços a partir de um pressuposto de dinamização, por um lado, e por outro, num propósito transversal a toda a Universidade de Coimbra (UC), tentando reduzir custos e aumentar as receitas. Relativamente ao TAGV – que já teve alguma apresentação pública e a visibilidade correspondente – a intenção é que seja o braço performativo da Universidade de Coimbra, com uma programação a orientar-se no seu todo por uma linha norteadora que já começou a ser definida.

Num trabalho a envolver outras estruturas da UC, como já foi salientado pelos responsáveis do TAGV?

Exato. O que passa por uma rede que envolve, nomeadamente, a Casa das Caldeiras, através da programação na área do cinema, o que faz todo o sentido, até do ponto de vista da proximidade física.

A Casa das Caldeiras que também está diretamente ligada a uma nova valência da Fundação Cultural da UC?

O Centro de Produção de Conteúdos, que ficará instalado na Casa das Caldeiras, que é e continuará a ser a “casa” dos Estudos Artísticos. Mas, mais do que isso, pretende-se que seja, que venha a ser, um espaço de laboratório e experimentação. O Centro de Produção de Conteúdos parte muito da ideia da Televisão Web da UC (UCV). E que, não sendo uma extensão da televisão, será uma sua estrutura tutelar, de que será um dos principais clientes e principal beneficiária. As obras para a instalação de um estúdio na Casa das Caldeiras vão começar, sendo que este estúdio não servirá apenas a UCV, pretendendo ser um espaço onde alunos das diversas licenciaturas – dos Estudos Artísticos, claro, mas também, por exemplo, do Curso de Design e Multimédia, com uma forte componente prática –, possam desenvolver os seus trabalhos. Aliás, o próprio estúdio resulta de uma parceria estabelecida com o Departamento de Engenharia Informática da UC, o que significa que irá acolher alunos e projetos dessa área, nomeadamente de um projeto de vídeos de saúde [de que é responsável Mário Rela]. Além disso, há ainda a ideia de criar um repositório de equipamento de reportagem – câmaras, microfones, tripés, luz – que possa ser utilizado por quem dele precise.

Circuito turístico foi encarado muito como dano colateral

A intenção é que o Centro de Produção de Conteúdos tenha uma forte relação com esse conjunto de cursos?

A intenção é que funcione como uma espécie de extensão pedagógica de vários cursos, dos que já foram referidos, mas de outros da Faculdade de Letras, por exemplo, como Jornalismo, claro, que é o curso fundador da UCV. Neste Centro de Produção de Conteúdos queremos então alimentar a UCV, projetos como o iTunes U(niversity) – que tem sido um sucesso, está a chegar agora aos 100 mil downlowds –, e a que Coimbra foi a primeira universidade em língua portuguesa a aderir. O processo em Coimbra, coordenado por Joaquim Ramos de Carvalho, teve início com uma proposta a diversos professores, que fizeram guiões em áreas tão diversas como problemas de matemática, robótica, desporto, violência nas escolas, património musical português, Café com Ciência (da responsabilidade de Carlos Fiolhais). O que nós pretendemos agora, no Centro de Produção de Conteúdos, é responder a algumas necessidades que já se percebeu existirem em departamentos, institutos, unidades orgânicas, que nos têm pedidos vídeos institucionais, de divulgação científica e outros.

Existe uma data para a entrada em funcionamento do Centro de Produção de Conteúdos?

Em princípio, vamos aproveitar o primeiro aniversário da UCV – que recentemente ganhou um prémio de boas práticas europeu –, a 21 de novembro, para fazer essa apresentação pública do projeto na Casa das Caldeiras.

Mas há uma segunda iniciativa importante para esta nova vida da Fundação Cultural da UC?

Exato. A Fundação Cultural vai começar a fazer a gestão da loja e do circuito turístico da Universidade de Coimbra. O facto é que, durante muitos anos, o circuito turístico foi encarado como uma espécie de dano colateral. E nós não podemos descurar as 400 mil pessoas que nos visitam em cada ano, num número que tem vindo a crescer paulatinamente ao longo dos anos. Para que esse crescimento continue tem de fazer-se algum investimento, que pode nem ser financeiro, mas que deve acontecer no próprio circuito, na formação das pessoas que estão a acompanhar os turistas, na própria loja, numa atenção diferenciada que é necessário promover.

Estes espaços funcionam hoje muito como uma afirmação…

Como uma afirmação da marca. Embora a nossa marca já esteja muito afirmada, se for também projetada numa outra dimensão só teremos a ganhar. Queremos fazer essa afirmação também em termos patrimoniais, que já começou a fazer-se, nomeadamente com a abertura do piso intermédio da Prisão Académica. Nesta área estamos a trabalhar com o pelouro do turismo da Reitoria da UC, mas também com a Câmara Municipal de Coimbra, o que é fundamental para criar condições para que os turistas fiquem mais tempo na cidade do que o dia que é habitual. É nossa intenção criar igualmente uma loja virtual, onde possam concentrar-se todos os serviços e ofertas da fundação e da universidade, como, por exemplo, a venda de bilhetes online para o TAGV.

No estádio será utilizada a lógica do utilizador pagador

Relativamente aos restantes espaços da Fundação Cultural da UC, nomeadamente o Auditório da Reitoria, o Palácio de S. Marcos e o Estádio Universitário?

O Auditório da Reitoria continua a ser muito solicitado para a realização de congressos e reuniões de média dimensão. E queremos cada vez mais dinamizar essa oferta, se calhar com uma dinâmica que possa passar pelo Palácio de S. Marcos. Relativamente ao TAGV há a intenção de ir acabando com a lógica dos espetáculos gratuitos, que só prejudica, porque há a tendência de considerar que o que é grátis é menos importante. E depois temos espetáculos belíssimos, oferecidos à cidade, com salas vazias, porque também há muito a tendência para levantar convites e depois não ir ao espetáculo.

Para o Estádio Universitário há mudanças muito significativas?

No Estádio Universitário – e o senhor reitor já o anunciou – vai ser utilizada a lógica do utilizador pagador. O estádio é um espaço muito privilegiado da cidade, é o parque desportivo da cidade por excelência, tem uma localização fabulosa, vai ficar ainda melhor com os acessos à volta a serem cuidados, com a proximidade do Convento de S. Francisco. O deporto universitário, no qual Coimbra é excelente – com a Associação Académica de Coimbra (AAC) a ser responsável por mais de 60 por cento do desporto na cidade –, com títulos muito importantes e muito graças ao esforço que é feito pela Universidade de Coimbra no Estádio Universitário. Mas, numa lógica de requalificação do próprio estádio, todos vão ter de nos ajudar a pagar.

Como é que vai funcionar esse pagamento no Universitário?

Será estipulada uma taxa de utilização tipo B – para o utilizador geral –, com um preço por hora. Para as secções desportivas da AAC, com quem vamos dialogar, o preço será sempre muito abaixo desse, será mesmo muito abaixo dos 50 por cento, uma vez que as secções fazem uma utilização intensiva e continua a entender-se este como um serviço a prestar na academia. No entanto, só desta forma será possível nós continuarmos a manter, em condições de utilização e disponibilizado a todos, um serviço que se considera fundamental. Importante é que todos percebam que, para que isso continue a acontecer, é necessário que haja uma comparticipação dos utilizadores.

Com o corte orçamental na universidade, é cada vez mais necessário encontrar outras fontes de financiamento?

É fundamental. Para lá das receitas próprias, nas quais temos de apostar, vamos tentar encontrar mecenas, porque, no meio de toda esta crise, o dinheiro não ardeu, continua a existir em algum lado. Estamos agora a fazer um grande esforço para encontrar pessoas que, nestes tempos sombrios, ainda queiram associar-se à Universidade de Coimbra e ajudar-nos a cumprir uma missão que é nossa e que queremos continuar a assegurar.

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