Cartago imitado na Solum

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Mário Nunes

Cartago, uma das mais famosas cidades da Antiguidade, fundada pelos Fenícios na costa setentrional de África, foi conquistada e destruída pelos romanos em 146 a.C.. Segundo a lenda, o conquistador, Cipião Emiliano, para se vingar das derrotas e mortes que foram infligidas a Roma pelos cartagineses, mandou salgar a cidade tornando-a árida e desabitada.

Em recente apontamento ilustrado do Dr. Américo Ponces neste jornal e na coluna do correio dos leitores, de 18/11, sob o título “Três resistentes”, aquele leitor denuncia, com sábia ironia, a barbaridade cometida contra três choupos existentes no espaço verde camarário, nas traseiras do bloco de habitações da rua Gen. Humberto Delgado, na Solum, e nas proximidades do bloco de estabelecimentos comerciais, onde estão instalados o Tamoeiro, a Velha Academia e outras lojas. Árvores que têm resistido, heroicamente, como os cartagineses, às “maldades” de alguém que não gosta da natureza e que lhes tirou a casca do tronco em toda a circunferência (no choupo maior por duas vezes) como se “fossem sobreiros” e lhes salgou a base, o pé, que, como escreveu o articulista, “se tratasse de pés de porco na salgadeira” (vimos na Av. Fernão Magalhães ato semelhante numa laranjeira, que veio a secar).

Outro dia e antes da denúncia nas “Beiras”, ao olharmos da janela o horizonte que se espraia naquela direção e que quase nos permite referenciar o São do Deserto na nossa Vila do Espinhal, reparámos que os ramos do choupo mais alto estava sem folhas e a secar. Fomos ver “in loco”, tentando descobrir a causa. Com espanto verificámos o que o leitor denunciara, que pessoa inimiga da comunidade e que detesta os valores que a natureza oferece ao homem, numa atitude censurável e de crueldade, descascara, intencionalmente, o tronco de três árvores. Ficámos indignados e prometemos escrever sobre o assunto e alertar, o que fizemos, os serviços do ambiente da Câmara. Contudo, não nos apercebemos do salgado. Ao lermos o texto de Américo Ponces veio-nos à memória o episódio lendário de Cartago, na época das Guerras Púnicas, a salga da cidade e o local votado aos deuses infernais, conforme a mitologia romana.

Custa a acreditar e é revoltante que se mate, fazendo “sofrer”, meses, as vítimas, neste caso as árvores. Se os choupos incomodavam ou causavam estorvo ao(s) autor(es) da heróica façanha, entendemos que deveria contatar os Serviços competentes do Município e colocar a questão, argumentando as suas razões e jamais proceder daquela maneira. No diálogo é que os homens se entendem.

A ação deste alguém (quem será?) contraria o amor e a amizade que alguns moradores da rua Infanta D. Maria evidenciaram no passado fim-de-semana, salvando uma árvore que estava a desabar devido ao forte vento que assolou a Solum. Arregaçaram as mangas e munindo-se de ferramentas e material adequado mantiveram a árvore de pé para não morrer.

Concluímos, condenando o autor da infeliz ação anti-natureza e agradecendo ao Dr. Ponces o seu apontamento na defesa do ambiente e aos salvadores da árvore o seu ato de cidadania.

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