Tranquilidade responsável: precisa-se

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Olinda Rio

O país enfrenta uma crise grave, não só do ponto de vista económico, político e social, mas também de âmbito moral. Os últimos anos acentuaram uma forte erosão de valores e de princípios, emergindo as consequências da diluição das fronteiras entre o bem e o mal.

A ética, bem como a responsabilidade política e administrativa, são elementos fundamentais na produção de confiança dos cidadãos. Sem confiança nos procedimentos e nos processos não haverá adesão aos mesmos.

Os cidadãos têm cada vez menos confiança nos políticos e nas instituições públicas. Reclamam responsabilização, prestação de contas públicas, correta gestão dos dinheiros do contribuinte.

Ao contrário do referido por alguns autores, e do que advém do senso comum, o contexto cultural português é propício a altos padrões éticos. A honra, a palavra dada, o compromisso, a honestidade, a lealdade, o respeito, a solidariedade, a probidade, são valores tradicionais na ambiência cultural portuguesa que é preciso manter e reforçar.

A promiscuidade entre a política e os negócios privados, a política e o futebol, a política e os interesses pessoais, minou a confiança dos cidadãos e desincentiva comportamentos éticos.

Uma opinião pública cada vez mais atenta, informada e consciente da sua cidadania exige mudança, exige um envolvimento responsável e activo, exige uma participação efectiva, mas cívica. Também o aumento da literacia e das habilitações favorece esta tendência para o aumento da participação social e da cidadania activa.O governo deve dar lugar à governação, que coloca a tónica na cidadania redefinindo fronteiras entre o Estado e a Sociedade, sendo valorizada a participação desta para enfrentar os desafios, nomeadamente a legitimação do poder das autoridades públicas. Os governos não podem conduzir e implementar políticas, por muito boas que sejam, se os cidadãos não as entenderem e apoiarem, principalmente numa altura destas. Trata-se da governação centrada nos cidadãos. Um conjunto de práticas governamentais que encorajam de forma permanente o exercício da cidadania plena e as suas responsabilidades. É este o caminho. Agora, é necessário talento, criatividade, esforço, empenho, conhecimento e inovação, sem medo, sem “mas”, para o percorrer. Os portugueses são criativos, sabem o que seria bom fazer, mas, normalmente, não fazem, não dão o passo seguinte: agir.Eu acredito que este governo é capaz, mas o esforço tem que ser de todas e todos. Temos que estar juntos. Agir é transformar as nossas opiniões em contributos. É usar todos os mecanismos que já existem, e estão à nossa disposição, para produzir conteúdos que reflitam de forma construtiva os nossos pareceres. Mas é também fazer em cada dia o melhor que sabemos. É ser sensato. É ser amigo. É manter as rotinas possíveis aos nossos filhos. É ajudar os nossos vizinhos. É mudar de atitude e correr riscos, ser criativo, inovador, empreendedor e muito solidário com quem vive pior do que nós.Todos sabemos que uma crise esconde grandes oportunidades, principalmente se soubermos geri-la com tranquilidade responsável.É nestas alturas que podemos demonstrar ao mundo o que temos de melhor, que somos capazes de ser exemplares em matéria de ética e cidadania, o que é em si um valor seguro. Gostei de ver a atitude dos japoneses perante uma calamidade bem maior. Não os vemos em manifestações, nem greves gerais que só servem os interesses dos mesmos do costume. Participação activa, sim. Comportamentos “revolucionários”, pouco éticos, ou pouco cívicos, não. Somos europeus, somos civilizados, somos credíveis, apesar de um passado recente lamentável nesta matéria. É a nossa credibilidade perante a Europa e o Mundo que nos vai salvar, se soubermos recuperá-la. É a nossa reputação de “ boa gente” que nos vai abrir portas. A todas e a todos individualmente, mas sobretudo às nossas empresas que estão a tentar criar riqueza exportando e negociando no Brasil, em Angola, no Iraque, na Líbia, em Marrocos, na China, no Japão.“Temos também que acreditar em alguma coisa. Deus, destino Karma, vida, qualquer coisa” Há muitas situações que não controlamos, que não imaginamos e que vão ter uma importância decisiva. Para o melhor e para o pior. Referindo Eduardo Lourenço, na sua entrevista do passado dia 15 de Outubro ao jornal “Diário As Beiras”: “ Nós aprendemos é de diante para trás e não de trás para diante. De trás estamos numa espécie de nevoeiro, sabendo umas coisas, lendo na luz de outras…Angustiante e interessante. Mas é o que dá sabor às coisas: é que são imprevistas. Nós concebemos, fazemos projectos, sonhamos…mas , num momento ou noutro, sempre nos enganamos. “

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