Norberto Canha
Continuo a surpreender-me com a impreparação dos políticos de todo o Mundo. São cegos, surdos e mudos.
Cegos porque não vêem a realidade do mundo em que nos movimentamos. Deixem de falar em novas tecnologias, emparcelamento da propriedade, capitais, bolsas, capitalismos. Sabem por acaso que uma célula isolada (e tem vida se tiver alimento e este não for poluído) tem 36 vezes as dimensões duma célula encarcerada entre as outras células dum tecido? Isto quer significar que num pequeno pedaço de terreno se podem produzir alimentos para uma família.
São surdos porque só ouvem as notícias da comunicação credível, a vossos olhos, seja a nível nacional e internacional e deixam-se atemorizar pelos horrores que relatam e encantados pelo mundo de êxito que apresentam. Não têm ouvidos para escutar as multidões de desempregados, de agricultores que cada ano vêem definhar a sua agricultura que ainda vão mantendo de pé à custa da sua reforma ou das suas últimas forças para conservarem, embora moribundo, aquilo que os seus antepassados lhe deixaram.
São mudos porque nada dizem sobre como sair da crise que avassala o nosso país e avassala o mundo. É uma questão de tempo, e é esse tempo que temos de contrariar.
Digam-me senhores políticos, evidenciem senhores políticos como é possível sair do atoleiro em que nos encontramos se:
– A madeira do castanheiro, que é uma madeira nobre, só dá mais valia (que não paga a mão de obra) se cortada para o lume e não para madeira – e os castanheiros estão na verdade a ser cortados.
– Morrem por doença os castanheiros mansos, os sobreiros, os plátanos e nada nos sabem dizer – e como poderão dizer se não há investigação dirigida a estas pragas até porque não há investigação e a junta de investigação, ou estrutura semelhante, não funciona ou já não funciona com o fulgor que já teve.
Os funcionários do Ministério da Agricultura são fiscais implacáveis da União Europeia e nem uma palavra, uma solução, neles encontramos para o solucionamento dos problemas agrícolas, das pescas, do ambiente.
– Se um produto vendido no supermercado é cinco vezes mais caro do que o que é pago aos agricultores.
– Se os produtos são produzidos ou importados, como é que os supermercados têm leite, azeitonas ou ovos? Se esse supermercado não tem vacas, nem galinhas, nem oliveiras. É assim que se premeia o esforço de quem trabalha – morrer à míngua dentro da sua abundância;
E donde vêm as rações para alimentar os animais?
– Se o azeite está ao preço – ou mais barato – do que se vendia há vinte anos.
Senhora Ministra é provável que não tenha no seu Ministério – que a maioria já se reformou – alguém que saiba da funcionalidade da Agricultura. Na época de monarquia – e na 1ª República – a agricultura era ensinada na instrução primária. Hoje ensina-se-lhes os “games” e a mexer nos botões da televisão e dos computadores. Estes meios esgotam e entretêm o tempo, mas não ensinam a sobreviver.
Senhora Ministra, não gostaria de estar nesse lugar. Mas se tivesse a sua idade, determinação, saber e juventude, aceitaria o cargo, mas precisaria da experiência que tenho, ou de querer e encontrar conselheiros que saibam de agricultura e não sejam apenas contabilistas e estatísticos.
De si depende o sair da crise. Estamos fartos dos aumentos de impostos, apenas para pagar as dívidas, continuando a empenhar-nos e nada que nos crie a esperança de a vencermos. É uma herança pesada e perversa – tem que haver linhas de rumo para ultrapassar essa herança e perversidade.
Sábio pela idade, pela vivência, pela observação e caminhos que ousei ou tive que percorrer, embora não me tenha pedido, sempre lhe direi como procederia, em parte estou a testá-la, mas com o desinteresse de quem detém algum poder.
Aconselho que leiam o livro mandado em formato electrónico a partir de 7 de Dezembro de 2010 cujo título é “Amar Portugal; apelo ao senso, à verdade e ao reconhecimento / cartas aos netos” –, a todos os políticos (dos partidos, presidentes das câmaras, juntas de freguesia). Livro esse que agora vou publicar.