Alergias de Verão

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Gonçalo Capitão

De férias por cá eis que dedico um pouco de tempo a pensar se o diabo não estará mesmo nos detalhes. Dito de outro modo, interrogo-me sobre a importância de desleixarmos pormenores no cômputo mais geral do nosso atavismo colectivo (algo que me faz temer seriamente sobre o nosso futuro pátrio).

Pormenor um: a Estrada Nacional 1 na subida de Santa Luzia (antes das bombas de gasolina para quem circule de Coimbra para a Mealhada) tem crónicos problemas no talude (lado direito, no referido sentido). Creio que há anos que vejo a faixa da direita encerrada, em reparação, brevemente reaberta e de novo vedada.

É isto essencial para o resultado imediato da recuperação do país? – perguntará o leitor. Não – respondo eu. Porém, num país “normal” uma de duas coisas aconteceria: ou a reparação é inviável e buscar-se-iam novos traçados (e mesmo aqui sem deixar de perguntar à Estradas de Portugal por que raio não chegou a uma conclusão que a “defunta” Junta Autónoma de Estradas poderia ter tirado), ou o trabalho está mal feito e cumpriria perguntar quantos encarregados das obras (presume-se, engenheiros da EP) e empreiteiros foram já responsabilizados por projectos mal concebidos e dinheiros públicos sucessivamente “torrados” no asfalto quente.

Pormenor dois: por três vezes deixei o carro no parque camarário (falo de Coimbra) junto ao Parque Dr. Manuel Braga (vulgo, Parque da Cidade) e de todas elas ouvi: “não tenho troco”. Bem sei que a coisa tem a ver com míseros cinco cêntimos, mas a pantomina é sempre agravada pelo “fico a dever” dito pelo funcionário. Vamos por partes: cinco cêntimos “confiscados” a cem turistas e munícipes são cinco euros ilegítimos, ao fim do dia; seria mais sério a autarquia instruir a empresa cobradora para reverter a consequência da sua imprevidência para as perdas próprias e não contra quem não tem culpa de que não haja máquinas para pagar ou que os tempos de estacionamento possam acabar em quantias obtusas.

Pormenor três: em frente ao centro comercial Girassolum existe um diversificado grupo de arrumadores que, num lugar onde é facílimo perceber se há ou não lugares vagos (e ainda que o não fosse…), lá vêm pedir (leia-se, exigir) uma moeda, sob pena de, coincidência das coincidências, o carro poder acabar misteriosamente riscado. Neste caso, não é só a inoperância das forças policiais que choca, pois pareceu-me ouvir dizer que uma personalidade com subidas responsabilidades executivas na cidade teria dito que o cenário actual é preferível a ter os extorsionários no “mercado” dos assaltos. Não só é uma enormidade legitimar o crime de extorsão “à troca” com o de roubo ou furto, como é inadmissível que uma pessoa eleita para resolver os problemas de Coimbra encolha os ombros a expensas (literalmente) de quem já (e se calhar mal) lhe paga o ordenado.

Depois disto só me faltaria dizer que é estúpido telefonar para o INEM para arranjar um pseudo-argumento de debate parlamentar, mas creio que o tempo demonstrou que eu é que não percebo nada de política…

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