O presidente da câmara municipal acredita que Coimbra será um exemplo para outros municípios na forma como sairá da crise. Mas, mais importante que isso, é fundamental que os conimbricenses passem a olhar para a sua cidade de uma forma diferente, afirma João Paulo Barbosa de Melo.
Do programa das comemorações do Dia da Cidade, existe algum aspeto que queira salientar?
O programa, em particular, é muito rico. Mas vou frisar o facto da sessão solene ter lugar no Jardim da Sereia. Um jardim que, durante alguns anos, esteve algo esquecido e tornou-se pouco atrativo. As pessoas chegaram a ter receio de vir cá passear ou até desfrutar. Mas, nas últimas três semanas, tem-se vindo a fazer um esforço para devolver o jardim à cidade.
É, então, uma boa prenda para a cidade?
Eu julgo que sim. Aliás, esta é uma prenda que, em termos financeiros, representa apenas trabalho dos funcionários da autarquia. Julgo que, depois de pronto, vamos oferecer de novo à cidade um dos mais bonitos jardins do país.
Já para não falar da exposição de esculturas de Rui Chafes que pouca gente sabia que existia na Sereia?
Feita a limpeza do jardim, a maior parte das pessoas já pode olhar para as esculturas que, antes, estavam escondidas dos cidadãos comuns. Um património valioso que aqui foi instalado em 2004, mas que nunca foi inaugurado.
Porque é que nunca foi inaugurada?
As explicações perdem-se na bruma do tempo. Uma coisa é certa: o processo foi interrompido tempo demais, mas acabou por ser um bom pretexto para pegarmos agora na nossa Sereia e voltarmos a mostrar este conjunto escultórico de grande qualidade.
Que cidade é esta que hoje festeja o seu dia?
É uma Coimbra que, como todo o país, está preocupada com o seu futuro. Estamos num momento de deitar contas à vida. Mas eu acho que, para além da preocupação conjuntural financeira que todos temos, Coimbra está, aos poucos, a descobrir que tem um potencial fantástico. Aliás, eu defendo que vai ser com Coimbra que Portugal irá sair da crise.
Porque é que diz isso?
Há territórios que se portam melhor do que outros nas crises. Eu estou muito convencido que Coimbra será um dos territórios portugueses mais capaz de dar a volta à situação difícil que hoje vivemos.
Quais são as razões que o levam a acreditar nesta situação?
Quando olhamos para aquilo que é, hoje, a Universidade de Coimbra – a qual é hoje um dos fatores de desenvolvimento da cidade e que, nos últimos 10 a 15 anos tem dado passos de gigante na ligação ao mundo empresarial –, para a incubadora de empresas (Instituto Pedro Nunes, IPN), para o elevado número de empresas tecnológicas que começam a surgir na cidade, para o CoimbraiParque – que está agora, finalmente, com obras e investimentos a arrancar –, percebemos que na área do conhecimento, da tecnologia e das indústrias criativas, que estão em ebulição em Coimbra, vamos conseguir dar a volta a esta situação.
Apesar das dificuldades financeiras, acha que este Governo olhará de forma diferente para Coimbra?
A mim não me ouviram, muitas vezes, queixar do poder político que esteve em gestão. Basicamente, o que Coimbra tem de mostrar ao país é que é um erro desinvestir na cidade. Mas isso depende de todos os conimbricenses. Depende da maneira como nós conseguimos mostrar que esta é a maneira certa de dar a volta à atual situação. Quanto mais formos capazes de mostrar que estamos a fazer bem, mais tenho a certeza de que qualquer governo em funções, seja este ou outro qualquer, será obrigado a olhar para a cidade de outra maneira. Mais: o motor desta transformação de Coimbra no contexto do país deve ser a própria cidade e, consequentemente, os seus cidadãos.
Ou seja, Coimbra também tem de se auto-valorizar?
Exatamente. Nós em Coimbra, nos últimos anos, cultivamos uma certa forma de estar bastante vitimista, triste consigo própria. Todos têm coisas a dizer que na cidade está algo de errado. E, de facto, temos coisas erradas, mas julgo que estamos a assistir a uma mudança na forma como olhamos para nós próprios.
Coimbra ainda é uma cidade com muito trabalho pela frente?
Sim, temos muito trabalho pela frente. É essa perspetiva que eu queria acentuar e que, na minha opinião, Coimbra tem de fazer bem. Se o fizermos, seremos um exemplo para todos os outros municípios, com o país a perceber que Coimbra deve ser olhada de forma diferente.
E muitas feridas por sarar, como por exemplo a Baixa ou o Metro?
Na Baixa, julgo que começamos a ver uma luz ao fundo do túnel. Se calhar ainda vão fechar mais alguns estabelecimentos comerciais porque a crise é grande e não é possível acudir a tudo, mas já se vai notando umas sementes de esperança para aquilo que é a Baixa. São essas sementes que compete a um município ir semeando. Não podemos fazer tudo, mas se conseguirmos ir percebendo que, com trabalho e esforço é possível inverter as coisas, ainda melhor. Nós temos uma cidade com um potencial fantástico, muito acima de outras cidades. Se percebermos isto, acredito que conseguimos dar a volta.
Sinal disso mesmo é a construção do futuro Centro de Congressos no antigo Convento de S. Francisco?
Centro esse que estará pronto antes de 2013, a não ser que haja uma grande hecatombe. É um enorme investimento que estamos a fazer e que tem a ver com a cidade dinâmica, ativa e otimista que queremos construir. Quanto mais pessoas nos visitarem – e temos a experiência de que as pessoas gostam daquilo que vêem e que a cidade fica no coração daqueles que cá estudaram –, melhor. Aliás, é importante que haja um fator de contágio relativamente à satisfação dos nossos visitantes. Um fator que, na minha opinião, também ajuda a aumentar a auto-estima dos conimbricenses.
Em dia de aniversário, é usual que se peçam prendas. Qual seria a melhor oferta para a cidade?
Há pequenas prendas que dependem do Governo Central e que nós gostaríamos de receber hoje ou noutro dia qualquer. Falo de questões como o Metro Mondego, que já se arrasta há alguns anos, de Coimbra-B e a nova estação rodoviária, entre muitos outros. Há um conjunto de obras que se arrastam há uma série de anos e que são anos demais para projetos que, na minha opinião, são fundamentais para a nossa cidade.
Mas se pudesse escolher, qual seria a prenda ideal para este dia?
A melhor prenda que Coimbra podia receber era começar a olhar para si própria com uns olhos mais otimistas. Se conseguirmos mudar um pouco, até porque tal não pode ser feito em apenas um dia ou em alguns meses, vamos olhar de uma forma diferente para a própria cidade e Coimbra, mesmo que a ajuda externa não seja aquilo que nós pretendemos, vai ser muito melhor do que atualmente é.
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