Joaquim Valente
A Guarda é uma cidade de excessos se a considerarmos no seu clima agreste, na dureza do granito que a rodeia, pois localizada no interior montanhoso do planalto beirão acentua uma interioridade a que Jorge Dias chamou “a solidão das Beiras”.
Mas a cidade encontra-se numa posição dominante sobre vales fluviais luxuriantes, ricos do ponto de vista agrícola, como é o caso do Vale do Mondego e numa posição geoestratégica face ao país vizinho, tendo no passado tido peso decisivo como baluarte de defesa.
Como sede episcopal beneficiou do potencial mecenato dos seus sucessivos Bispos, que pediram e apoiaram a construção de uma Sé, dentro da cidade, cujas obras se prolongaram ao longo dos séculos.
A Catedral foi um lugar charneira da vida do Homem desta terra, e à volta dela se foi estruturando o espaço urbano, as vivências culturais, sociais e até económicas e é hoje um dos patrimónios artísticos referenciados a nível nacional, e o “ex-libris” da cidade.
Hoje a capacidade de gerir o património passa pela articulação e integração nos circuitos turísticos de novos “produtos” que marcam a nossa identidade cultural, aquilo que detemos e nos individualiza, com efeito positivo e colateral noutros sectores, o que deverá resultar numa capacitação das estruturas, assegurando-lhes os meios financeiros para execução das acções de investigação, conservação e preservação desse mesmo património, inserido localmente e a nível global.
Assim, com base nestes pressupostos e numa política de regeneração urbana, o executivo camarário apoiou o projecto “Passos à volta da memória” inserido na candidatura “Política de Cidade”, e no programa “Mais Centro” do Quadro de Referência Estratégico Nacional.
A actividade decorre até 31 de Agosto e consta de uma visita encenada à Sé Catedral da Guarda, onde um actor conduz os visitantes pelo monumento, revelando a sua história, os segredos da construção, numa atitude interactiva e de conhecimento com coordenação geral do Director Artístico do Teatro Municipal da Guarda, e o apoio da Direcção Regional de Cultura do Centro e da Diocese da Guarda.
Centenas de visitantes nacionais e da vizinha Espanha, já usufruíram daquela visita considerando-se já um êxito, pelos objectivos alcançados nomeadamente a nível do conhecimento histórico, do espírito de cidadania e da animação sociocultural de uma zona nobre da cidade, e decerto que muitos mais virão nos meses que agora se aproximam mais vocacionados para o turismo.
Estas e outras actividades fazem parte de uma política cultural de dinamização turística para a vitalização do Centro Histórico, iniciada no ano anterior, sendo um dos meios de combate à interioridade e um exemplo de coesão territorial.