Coimbra perde população pela primeira vez em 100 anos… e nem sequer é para os vizinhos

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Os resultados preliminares dos Censos 2011, divulgados no final da passada semana, refletem um dado inédito: “pela primeira vez, desde o início do século XX, o concelho de Coimbra perde população”.

A constatação é do geógrafo e professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, António Rochette, que acrescenta ainda um outro dado, “igualmente inquietante”: o município conimbricense é o único, de todos os núcleos urbanos do Litoral Centro, a registar um decréscimo demográfico. Em detalhe, a perda populacional do concelho de Coimbra situa-se nos 3,63 por cento.

Num primeiro olhar dos dados do Recenseamento, este movimento negativo foi justifi cado como uma “transferência” para os municípios limítrofes – tendo em conta o crescimento registado em Condeixa, Lousã, Montemor, Miranda e Poiares. Só que, em leitura mais fi na, António Rochette demonstra que não é assim: Coimbra perde 5.391 residentes, mas o conjunto do concelho mais os que com ele fazem fronteira – os citados, mais Cantanhede, Mealhada e Penacova – perde ainda mais: 5.582 pessoas. E, mesmo quando a esta área se junta a Lousã (que, embora não confinando com Coimbra, tem com ela afi nidades notórias), o resultado é ainda um decréscimo, de cerca de quatro mil cidadãos. “A conclusão só pode ser uma: o núcleo geográfico que tem Coimbra como centro perdeu população, na última década”, adianta Rochette.

Já Fernanda Cravidão, especialista em Geografia Humana da Universidade de Coimbra, tem outra leitura e acredita que esta concentração populacional junto ao litoral e na periferia de grandes centros

urbanos é tendência que se irá manter. À Lusa e embora sem se referir especificamente a Coimbra, refere que “não houve investimento nos centros históricos, há uma degradação acentuada do parque habitacional e as próprias empresas deslocam-se para a periferia”. Por isso, explica: “as pessoas procuram viver nos locais onde há habitação mais acessível, sobretudo se existem redes de transportes para se deslocarem para os empregos”.

Para António Rochette, há nos Censos alguns resultados surpreendentes, sobretudo na míngua de residentes nos concelhos de Cantanhede e Mealhada e no crescimento de Poiares. Em Miranda, há “quase uma estagnação” (menos de quatro dezenas de pessoas a mais, em 10 anos), enquanto em Montemor se “fez sentir o efeito das novas urbanizações, sobretudo em Pereira”, Já a Lousã e Cantanhede têm subidas esperadas, “embora menos espetaculares, pelo trabalho de contenção dos últimos anos, levado a cabo pelos municípios locais”.

“Falhanço estrondoso” da estratégia de Coimbra

O problema, então, reside no coração desta bacia demográfi ca. “Mesmo ressalvando que estamos em presença de dados provisórios, creio que há fortes indicadores do estrondoso falhanço da estratégia de desenvolvimento do concelho, na última década”, afi rma Rochette. Para o docente, Coimbra é, cada vez mais, ma cidade que recebe, todos os anos, milhares de jovens que aqui demandam formação superior e que não consegue oferecer-lhes emprego. “Ora, isto faz com que a cidade envelheça e que, por exemplo, se justifique a quebra de mais de 600 crianças, nas escolas do concelho, em 2014, como previ no meu estudo, que tantos criticaram”, acrescenta.

Como agravante, António Rochette aponta a contradição do decréscimo de residentes com o “forte crescimento” de alojamentos. “É o triste resultado de uma política de aposta cega no imobiliário, esquecendo tudo o resto – equipamentos, espaços verdes, passeios, zonas de lazer, etc. “, constata, rematando: “Coimbra tem sido madrasta dos seus jovens e dos que cá acolhe, para estudar, ao mesmo tempo que deixa, de ombros caídos, o seu casco urbano morrer lentamente”.

“Temos de trabalhar mais” – presidente da câmara

O presidente da câmara de Coimbra considera que a perda de população, na última década, significa que é preciso “trabalhar melhor. “É um sinal de que temos de trabalhar melhor em Coimbra, pois a dinâmica de um centro faz-se de emprego”, sublinha. “Temos trabalhado para a criação de empresas e empregos, mas é preciso mais”.

Mas as variações de população na região de Coimbra também indicam, na perspetiva do presidente da câmara, que a cidade “é diferente dos outros centros” urbanos com uma dimensão signifi cativa, pois aqui “está verifi car-se um fenómeno de ‘metropolitização’”, pois Coimbra não tem registado, nos últimos tempos, aumento demográfi co, mas “os centros vizinhos têm vindo a crescer”.

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