O presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra (CHPC), Fernando Almeida, admite que existem vantagens na criação do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), mas afirma que “há estudos e consensos” a fazer e “correções que devem ser acertadas depois de ouvidos os profissionais”.
O Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra é uma das unidades que integram o novo Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. Concorda com esta fusão dos hospitais?
Pondo a questão assim tenho dificuldade em responder, porque este não é um processo fácil sob o ponto de vista metodológico e do planeamento. Mas se me perguntar se concordo com ideia geral de criação de um centro hospitalar, no sentido de que devemos eliminar redundâncias,que podemos investir na complementaridade de cuidados, que há ganhos a nível da gestão dos recursos humanos e do suporte à prestação de cuidados, digo claramente que sim.
Neste processo de fusão dos hospitais existem aspetos a salvaguardar?
Há sobretudo dois aspetos que devem encarados com muita atenção. Primeiro, as decisões têm que ser informadas, ou seja, devemos trabalhar essas decisões suportadas em estudos, na informação que existe em termos estatísticos e de projeção para o que será o futuro, e em termos do contexto estrutural, mas também tem a ver com o modo como se faz, quem faz e capacidade de diálogo. Muitas vezes o consenso pode não ser sufi ciente, é preciso ter capacidade de decisão e de motivação. Não se pode querer aplicar estas medidas sem haver diálogo e alguma preparação. E não estou a falar só da intervenção de técnicos altamente qualifi cados, devemos ouvir todas as pessoas com intervenção no processo. Devemos caminhar por objetivos e ter metas, ou seja, estabelecer qual é caminho e procurar chegar lá, se calhar não pelo caminho mais rápido, mas chegar. Há estudos e consensos que devem ser feitos, há correções que devem ser acertadas depois de ouvidos os profissionais. Todos sabemos que são processos novos, e senti isso aquando da criação deste Centro Hospitalar Psiquiátrico.
São públicas críticas de profissionais do Centro Hospitalar de Coimbra (CHC) sobre a falta de estudos prévios que clarifiquem os objetivos e a estratégia da fusão dos três hospitais.
Não me vou pronunciar em relação a outros profissionais, respeito muito os profissionais do CHC. O que posso dizer é que quando partimos para este tipo de trabalho devemos ter estudos prévios, mesmo que não sejam muito aturados. O que não devemos ter é o “feeling” nem o “achismo”, ou seja, temos o feeling que determinada coisa vai ser assim ou achamos que. Isso deve ser banido de uma linguagem técnica num processo destes. Estou convencido que deve haver estudos e que outros serão feitos, embora todos nós possamos ter uma ideia, sem ser necessário haver muitos estudos, de que provavelmente haverá algum benefício na junção destas estruturas. E não estou a falar sob o ponto de vista económico, nem me vou salvaguardar sob o guarda-chuva da “troika”, que agora é muito comum, mas até pelo processo que ocorreu no nosso hospital.
O próprio Centro Hospitalar Psiquiátrico resultou da fusão de três unidades hospitalares, os hospitais de Sobral Cid, do Lorvão e o Centro Psiquiátrico de Arnes. Essa fusão, na altura, obedeceu a estudos prévios?
Fizemos estudos para todos os passos que demos. Por exemplo, olhando para o que se passava nas urgências de Psiquiatria, que funcionavam no CHC e nos HUC e obrigavam-nos a ter profissionais num lado e no outro, fizemos estudos e concluímos que em vez de ver 20 pessoas num lado e 20 noutro, era muito melhor juntar esforços. O CHPC fez essa proposta aos presidentes dos HUC e do CHC e à ARS e desde outubro de 2008 passámos a funcionar nos HUC e ganhou-se em qualidade. Os profissionais passaram a estar acompanhados, há enfermeiros dedicados e temos uma sala de observações que não tínhamos. Os ganhos para os profissionais e para os utentes na prestação de cuidados são uma mais-valia inquestionável.
Esse trabalho podia ser replicado noutros serviços?
Naturalmente hoje podemo-nos interrogar se se justifi ca existirem duas urgências polivalentes na cidade de Coimbra. Todos nós temos a ideia de que era possível estudar e ver até que ponto se justifica, ou não, a existência de duas maternidades em Coimbra, a poucos quilómetros de distância. Não estou a dizer que se deve fazer a sua fusão, o que estou a dizer é que se deve estudar e analisar até que ponto se justifica. Se se concluir que existem justificações técnicas para termos duas urgências polivalentes e duas maternidades no concelho de Coimbra então estou inteiramente de acordo. Mas este trabalho pode ser feito para outras especialidades, nas quais é possível avaliar, por exemplo, se se justifica que existam duas urgências com todas as especialidades, a trabalhar separadamente.
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