A inclusão de imagens chocantes nos maços de tabaco pouco efeito teria para deixar de fumar e já ninguém liga às “banalizadas” mensagens escritas, afirmam dois especialistas em doenças do pulmão, que defendem outras medidas para combater o tabagismo.
António Araújo, presidente da Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão (PULMONALE), considera que a inclusão das imagens, que chegou a ser considerada pelo grupo de trabalho que avaliou a Lei do Tabaco, mas foi abandonada por não ter recolhido o consenso necessário, só terá um efeito dissuasor para quem considera começar a fumar ou para incentivar pessoas que estão a deixar de fumar a procurar ajuda.
Na opinião do especialista, também coordenador de patologia do pulmão no IPO Porto, estas medidas avulsas “servem muito pouco” e por isso devem ser integradas num conjunto de outras estratégias que aponta como mais eficazes.
“É apenas um pormenor na luta global que tem de haver no consumo de tabaco e que passa pela educação na idade escolar, consultas de prevenção tabágica facilmente acessíveis e incentivos à compra de medicamentos para quem quer deixar de fumar”, afirmou, a propósito do Dia Mundial do Não Fumador, que se assinala na terça-feira (31). O médico advoga também o aumento da carga fiscal sobre o tabaco e o aumento do preço.
Carlos Robalo Cordeiro, presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, também considera pouco eficaz a inclusão de imagens chocantes, assim como as mensagens escritas, que estão de tal forma “banalizadas” que já dão origem a piadas. “Imagens fortes e agressivas é claro que têm o seu impacto, mas já não há ninguém que não saiba que pode vir a ter cancro de pulmão, um enfisema pulmonar, uma neoplasia ou um enfarte do miocárdio”.
O especialista não tem dúvidas de que o enfoque tem de ser na ajuda a quem quer deixar de fumar, através de estratégias efetivas e concertadas que poderiam, aí sim, incluir um “marketing mais agressivo”. As estratégias defendidas por Carlos Cordeiro são as mesmas que preconiza o presidente da PULMONALE e que passam por uma “prevenção primária” nas escolas, desde o básico ao secundário, mas incidindo especialmente na faixa dos 15 anos, idade média em que mais se começa a fumar, uma maior proximidade das consultas anti-tabágicas e comparticipação da medicação.
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