Entrevista a Paulo Júlio antes do lançamento do livro “Crónicas de um Autarca”

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Porquê este livro?

Pretendo, sem dúvida, passar duas ou três mensagens que considero essenciais. Desmistificar a ideia de que os políticos são todos iguais. Não são. Fazer uma provocação à cidadania que existe em cada um de nós e, numa perspetiva de desenvolvimento local e regional, passar a mensagem de que o fatalismo pode ser vencido se houver atitude e ousadia. O porquê deste livro tem a ver com as 25 crónicas publicadas em 2010 no DIÁRIO AS BEIRAS e que, penso, passam estas mensagens.

 

Entende-se que Penela é o seu ponto de partida. Mas fala com convicção numa região Centro. Que estratégia para essa região?

Em primeiro lugar, a região Centro tem que perceber o que é e o que tem, para saber o que quer e para onde vai. Nós não temos nenhuma alavanca extremamente especial, mas temos uma imensa diversidade a todos os níveis. Mas, considero, que em tudo o que tem a ver com território é fundamental haver uma data – até pode ser 2018 ou 2020 -, criarmos uma ambição e um plano que tem que ser implementado. Somos o país dos diagnósticos e dos planos adiados. Temos que cortar com esse padrão.

 

Que papel terão os autarcas?

Um papel essencial. Portugal é o país mais centralista da Europa. E eu não tenho dúvidas de que a política de proximidade é mais transparente e pode ser mais eficaz a aplicar recursos. Portugal tem uma tradição muito forte sob o ponto de vista municipalista e não digo isto só porque sou autarca. Por isso tento, às vezes, nas minhas crónicas, depurar-me dessa condição até para lançar novos desafios ao Poder Local, que devemos agarrar nas áreas sociais, da educação, da saúde, da ação social. Mas também acho que o Poder Local tem de agarrar outras bandeiras como sejam o empreendedorismo, a inovação e a competitividade, mas numa reformatação de competências. Entendo que tem que haver aqui uma entidade supramunicipal para tornar o municipalismo ainda mais forte e mais próximo dos cidadãos.

 

Tem esperança em Portugal?

Tenho, porque tenho esperança nos portugueses. Diria, como um dos meus mentores políticos, que Portugal não é só isto e merece muito mais. Mas não tenho dúvida também que não vale a pena alijarmos responsabilidades. E para que os sacrifícios valham a pena, é necessário que mudemos, desde logo, a nossa forma individual de pensar.

 

Porque acha fundamental que “os bons quebrem o silêncio”?

Porque só assim conseguiremos mudar para melhor. Nessa crónica, quis dizer basicamente que as pessoas que têm um determinado conceito, supostamente bom, calam-se e deixam passar aquilo que parece mais evidente. Isso acontece também na política. Mas se os bons se manifestarem mais vezes e de forma mais acertiva, tenho a certeza que as nossas decisões terão mais ética e, sobretudo, terão uma base de inconformismo.

Quando diz que Portugal precisa de novos políticos, quer dizer gente nova ou gente com novas formas de pensar?

Seguramente, não é uma questão geracional. O país precisa de nova gente com novas formas de pensar. O meu exercício político tem seis anos e, tendo muito orgulho em ser político, reconheço que é importante para a política que os atores se renovem. E não quer dizer que saiam. Os atores de hoje podem mudar de funções aplicando as suas experiências a novas situações.

 

Concorda, então, com a limitação dos mandatos?

Concordo com a limitação de mandatos dos autarcas. Mas entendo que esta limitação deve ser aplicada também, e pelas mesmas razões, aos deputados e a outros cargos da nossa vida política e social. E porque é que os responsáveis dos sindicatos, por exemplo, não hão-de ter mandatos limitados? Não estou a dizer que os que lá estão não são bons, mas o mundo verdadeiramente mudou e é importante que tenhamos sempre massa crítica e visão que se adapte a novos tempos, novas variáveis, novas circunstâncias.

 

É um político ingénuo?

Ingénuo não. Mas sou um político genuíno. Na minha personalidade tento construir um lado com uma boa ingenuidade, mas todos temos que estar atentos. Tenho a sorte, e o desgaste também, de assumir, desde 1999, cargos de responsabilidade a gerir pessoas e aprendi que a melhor forma de liderança é pelo exemplo. Como damos o exemplo, as decisões, mesmo as mais difíceis, são respeitadas, o que é fundamental.

 

Acredita que o trabalho que está a desenvolver em Penela teria o mesmo resultado se estivesse à frente de um grande município?

Acredito. O trabalho, a estratégia, as metodologias, não têm a ver com o tamanho do município ou da organização. É errado pensar-se que quanto mais pequeninos os concelhos, mais fácil são de gerir. É uma ideia falsa. Nós temos muito menos recursos a todos os níveis, financeiros e humanos.

 

Este é o primeiro livro. Será o último?

Talvez não. Um dia escreverei um livro sobre gestão autárquica e sobre a minha visão sobre autarquias e o poder local.

 

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