A saúde dos vampiros é a nossa doença

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João Boavida

É certo que o nosso caldo cultural não ajuda os políticos de qualidade. A inveja e a maledicência cegas afastam os honestos. E alimenta pequenas corrupções (que vão crescendo), favoritismos (que são dura injustiça), amiguismos, (que se tornam regra), etc. Mas tudo porque as instituições não funcionam bem e há quem se sirva delas – o que é abuso inaceitável. Somos todos, de algum modo, responsáveis, mas há pessoas que, pela influência que têm, são particularmente culpadas.

Qualquer pessoa que abdica de fazer o que deve, no lugar em que está, que não cumpre, ou se serve da instituição para se servir, ou servir amigos, é responsável por esta situação. Quanto mais importante for a função maior é a responsabilidade, obviamente.

O grande problema agora é, todavia, este: Uma vez integrados na moeda única temos que ser eficazes, produtivos e rentáveis, porque estamos a competir com outros melhores que nós. Mas, para o País arrancar é indispensável acabar com a corrupção, o clientelismo e a incompetência que destroem os melhores. Ora, é precisamente isso que é difícil. E mesmo quando os políticos querem, em geral não conseguem, ou esgotam-se nisso. Alguns bons ministros foram já sacrificados pela força de algumas corporações, que todos conhecemos de gingeira.

Por outro lado, deixámos que um sistema de empresas e de organismos estatais, criasse impunidades enormes ao nível da má gestão (todavia muito bem paga e até premiada) e de vantagens múltiplas, que enfraquece a restante actividade económica. Mas que alimenta muita gente inútil e “encostada”; o que é um cancro para as potencialidades do País.

Ora bem, ou acabamos com isto ou ficamos para trás comidos pela gangrena económica e social. Mas como, se todos os dias somos afrontados com impunidades, absolvições, prescrições e favorecimentos, que ofendem os cidadãos e minam as instituições? E apesar de termos identificado o vírus não conseguimos o antibiótico eficaz?

É esta a conversão moral de que se precisa: uma transformação que acabe com este cancro nacional, e obrigue os políticos e responsáveis institucionais a atuarem como devem. E a serem educadores do povo e não deseducadores. Já se sabe que um político não é um menino de coro, e que não pode ter um coração de cordeiro, mas, neste momento, ele precisa mais de indignação moral que de calculismo; ou melhor, precisa de sentir a indignação moral do País e ir nesse sentido, sem deixar de ser racional e ponderado. E ter a coragem de prosseguir, mesmo sabendo que vão difamá-lo, e que talvez perca as eleições seguintes. Mas deverá perceber que a maioria está ansiosa por uma lavagem ética. Que não é feita de água benta e sermões, mas com a neutralização sistemática e inteligente dos que vampirizam a sociedade. Talvez perca as eleições, mas a história reconhecê-lo-á como grande político. Há uma justiça social que exige o fim de protecionismos estatais e de centralismos que só beneficiam alguns e que parasitam o sistema.

O que distingue as democracias avançadas das bananoides é o respeito pelos cidadãos e pelas instituições. A justiça americana deu-nos ainda agora uma enorme lição. A comparação com a nossa afunda-nos ainda mais na depressão. Será que não conseguimos afastar as maçãs podres?

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