O país (4)- sonho e interpretação

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Fui para a cama, dia 08/04/2011, particularmente triste. Tão triste como nunca tinha estado antes, e, em jovem, quando a morte mais nos entristece, tinha assistido à morte de dois irmãos mais pequenos que eu – e que hoje lembro com tanta saudade e quanta falta me fazem. E ao início da morte da minha mãe – que a viagem de noite, de moto, em pleno sertão africano, chamar o médico, que já tarde chegou. Era uma tristeza diferente – de tristeza e de firmeza – vamos em frente. Há que caminhar. Mas esta tristeza, a sentida no sonho, era de impotência,de um grito que damos para prevenir o abismo… e os loucos continuam a caminhar… e vão despenhar-se. De noite, já pela madrugada acordei: rezei, voltei a dormir e sonhei.

Vejo-me em Coimbra a ir ao Estádio assistir a um desafio entre o Benfica e um clube estrangeiro, creio que era o PSV Heidoven. Fico instalado, e só, na zona correspondente e com a mesma imagem do Estádio Nacional, zona das individualidades. Mas no lugar onde estava, via com dificuldade todo o campo e todos os jogadores. Havia um veículo de quatro lugares, movido a electricidade que me levou para mais perto; mal parou, arrancou e eu ia caindo. Não havia bancadas para me sentar – o desconforto aumentou, até porque via pior o que se passava no campo e no jogo. Resolvi voltar para o primeiro lugar, o espaço longo… muito longo que separava dos VIP’s… era terra não tratada, cheia de erva já seca. Tudo em agonia. A distância era longa e a coragem para regressar ao lugar a acabar-se-me. Encontro uma senhora de uns 50 e poucos anos, sorridente, que me diz: venha através da minha casa, é mais perto e vai protegido e abrigado. Atravessei a sua casa, subimos escadas e mais escadas, até que estas findaram e não havia saída. Encontrámos uma família – quatro adultos e uma criança – miudinha, que ainda não falava, mas muito alegre e sorridente; sorriam todos; nós também sorrimos.

E a notícia – mas isto não tem saída! Voltamos a sorrir. Foram gargalhadas e que gargalhadas! Que boa disposição! O cavalheiro, dono da casa, falou: – “Mas nós temos uma saída secreta”. Acordei!

Razões dessa tristeza com que me deitei:

– a minha mãe tinha falecido tinha eu 15 a 16 anos, em Caçonde, Angola, portanto há mais de 65 anos; o meu pai no mesmo local, em 1962. Quando agora queríamos legalizar os bocaditos que nos deixaram era preciso a certidão de óbito da minha mãe, procurou-se no Registo Civil, onde estava registado o seu nascimento, e na sua certidão estava apenas averbado que tinha ficado viúva de meu pai em 1962. Agora, e o pobre do cidadão é que é marterizado pela ineficácia da estrutura do Estado!

“Dirija-se à embaixada de Portugal em Angola; achava correcto. Logo um amigo – “eu fiz isso e não tive qualquer resposta” -,

Um advogado: “dirija-se à embaixada de Angola em Portugal, ela que trata desses assuntos”, mas a resposta vai demorar tanto tempo, que se não tiver lá um conhecido… não sei quando chegará”!

Penso que todos estes passos deviam ser dados pelo Registo Civil. Só assim é oficial e obrigaria a uma resposta. E com prazos”.

Sou agricultor biológico. Não funciona porque não há qualquer circuito de recolha, embalamento, transformação, e distribuição dos produtos biológicos. No meu concelho era praticamente, e continua a ser, tudo cultura biológica. Vende-se ao preço corrente. Mandaram-me um caderno imenso cujo título: “Termo de compromisso de respeito com as regras da produção orgânica – ECOCERT”.

Esse caderno de 20.07.2007, só o jornal oficial da União Europeia – regulamentos – tem 23 páginas em letra miudinha, escrito em português, duas colunas. Mais que essas páginas, estas escritas em inglês – List 4 A Minimal RisK Inert Ingredientes – by chemical name dated August 2004. Valho-nos Deus! Ninguém para nos acodir ou orientar. Só normas e exigências.

São várias as ilações a tirar. Os campos estão abandonados. Como não haveriam de estar se a agricultura dá prejuízo. Sublinhe-se que se importa 85 por cento do que se consome; – os camarotes de quem manda estão a uma distância tão grande do desafio que estamos a impedir que mal se veja o campo e os jogadores; – o transporte que circulava entre os importantes e o campo era movido a electricidade e é um despejar… tinha que regressar; O povo ainda nos dá alguma esperança. Ainda consegue sorrir.

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