Fronteiras da Ciência: Clonagem

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João Ramalho Santos

Investigador na UC e nos EUA

O tema da Clonagem (ou mais correctamente, o tema da Transferência Nuclear Somática), entrou de súbito no léxico e imaginário populares em 1996, com o nascimento da ovelha “Dolly”. Nunca tanto foi dito e escrito, especulado e exagerado, a propósito de uma única ovelha. No entanto a investigação nesta área era bastante antiga, remontando à década de 1950, e pretendia responder a uma questão de ciência básica muito simples. Uma célula de um embrião tem a possibilidade de formar muitas células diferentes.

À medida que o embrião se desenvolve as células perdem essa capacidade, vão sendo cada vez mais especializadas e passam a desempenhar funções muito específicas no organismo. Um pouco à semelhança da escolaridade, onde a escolha de ramos, áreas ou cursos vai progressivamente limitando as saídas profissionais dos alunos. Chama-se a esse processo Diferenciação.

Mas será possível voltar atrás no tempo e transformar uma célula especializada (da pele, do sangue) de um indivíduo adulto no equivalente a uma célula embrionária? Será possível Reprogramar uma célula adulta para ser outra coisa? A Clonagem é uma das abordagens a essa problemática, que não se limita a tentar reproduzir cópias idênticas de indivíduos, algo de resto impossível. Mesmo que conceptualmente simples de explicar, a técnica levanta inúmeras questões científicas, técnicas e éticas. As questões científicas e técnicas, relacionadas com uma taxa de sucesso muito baixa e variável de espécie para espécie, e com várias malformações em fetos clonados, são universais. Já as questões éticas não o serão tanto.

A Clonagem é também um tema fascinante porquanto, se continua a ser muito debatido na sociedade, a verdade é que muito poucos investigadores trabalham neste tópico, e o mesmo não é considerado pelos especialistas particularmente interessante. Isto porque surgiram entretanto outras técnicas para reprogramar células, como a Pluripotência Induzida, mais simples, menos complexa do ponto de vista ético e mais reprodutível do que a Clonagem, apesar de ter também as suas limitações. Uma característica importante da noção das Fronteiras em Ciência é estarem em constante mutação, nunca ficando onde as julgamos encontrar.

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