Queremos a Primavera, já!

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Francisco Queirós

Eles estão aí. Os lobos? Elas vivem aqui. As hienas? Eles estão a chegar. Os lobos? Alguém os vai chamar. As hienas? Ei-los que chegam: os homens do fraque transnacional. Os senhores do FMI. Chegam? Vêm? Tardam? Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal. Ainda vai tornar-se um imenso Portugal, sô Chico. Pode crer.

“E se a sentença se anuncia bruta / mais que depressa a mão cega executa /Pois que senão o coração perdoa”. E você disse mais, Chico. “Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal /ainda vai tornar-se um império colonial”. E pronto, Chico, é agora. Eles chegam aqui. São lobos? E o Vieira, não esse, o cantor dos lobos, mas o outro, o dos sermões, vê cumprir o seu desígnio. O Quinto Império, directamente de parte incerta (FMI nunca tem morada fixa) para o Aeroporto da Portela. Esta, a nossa Portela, a da capital, e não a outra com escola de samba. Confuso? Um pouco. Como você canta, Chico: “Guitarras e sanfonas, jasmins, coqueiros, fontes /sardinhas, mandioca /Num suave azulejo/ E o rio Amazonas que corre em Trás-os-Montes / E numa pororoca desagua no Tejo”. A aldeia global. Eles globalizam-nos num ápice. Globalizam, mas por baixo, muito baixinho. E para os agentes do fraque transnacional não há pai nem fronteiras. Bem pode, você, Chico, poemar: “Pai, afasta de mim esse cálice!” Para eles, para os lobos não há pais. Eles vêm aí? Os lobos! Quem os trouxe para aqui? As hienas. E o Quinto Império do Vieira, pá? E a Mensagem do Pessoa? O Pessoa via mais longe que Vieira. O seu império era a Europa. Veria ele já a senhora Merkel de melenas ao vento, envolta em nevoeiro, a cavalo nos mercados (para que se entenda, “mercado” antes significava local de venda de peixe ou fruta, agora é eufemismo de super-banco)? Eles estão aí! Os lobos! “Oh, musa do meu fado. Oh, minha mãe gentil /Te deixo consternado. No primeiro Abril”. E a história está voltando ao que era dantes. “Cachucho não é coisa que me traga a mim/ mais novidade do que lagostim (…) Há tanto nesta terra que ainda está por fazer / Entrar por aí dentro, analisar, e então / Do meu ‘attaché-case’ sai a solução! / FMI Não há graça que não faça o FMI”, declamava assim o José Mário há décadas. E afinal ainda cá estamos. E prontinhos para os receber. Os portugueses são um povo acolhedor! Deve ser por isso que a rapaziada grita: eles que venham! Quantos são? Eles vêm aí? São lobos? E quem os chamou? Foram as hienas? Confuso? Baralhado? Baralhe-se mais ainda. Cuidado com as rotações de 360 graus. Baralhe-se e distribua-se de novo. Mas de novo. Rodando as letras, FMI pode ser FIM. Ainda, Chico, ainda um dia “esta terra vai cumprir seu ideal /Ainda vai tornar-se um imenso Portugal”!

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