Portugal está na cauda da Europa em inúmeros indicadores, mas não na área da saúde. Coimbra – que muitos lutaram ao longo destes anos para ver consagrada como Cidade da Saúde –, tem contribuído para os sucessos e os seus hospitais foram palco de feitos pioneiros. Desde a área da transplantação à psicocirurgia moderna, foram muitas as intervenções inovadoras realizadas, nos últimos 17 anos, em Coimbra.
Nos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), há exatamente 17 anos, Linhares Furtado – cirurgião que em 1969 realizou o primeiro transplante renal feito no nosso país, tornando-se o precursor da transplantação em Portugal – concebeu e realizou os primeiros transplantes hepáticos sequenciais (ou em dominó) no mundo. Nos HUC, Linhares Furtado foi pioneiro, a nível nacional e mundial, de várias técnicas de transplantação de órgãos abdominais. Realizou as primeiras reduções e bipartições do fígado para transplante, concebeu e efetuou o primeiro transplante hepático em dominó no mundo –, com aproveitamento do fígado de um doente com paramiloidose –, e fez o primeiro transplante hepático triplo a nível mundial e primeiro transplante hepático pediátrico com dador vivo.
Em 1995 Linhares Furtado realiza uma intervenção inovadora no mundo, ao fazer um transplante hepático, duplo e sequencial e, no ano seguinte, volta a ser pioneiro, ao efetuar o primeiro transplante simultâneo de fígado e intestino na Península Ibérica.
Em 2006, já após a jubilação de Linhares Furtado, o Centro de Transplantação Hepática dos HUC volta a realizar uma cirurgia pioneira: um transplante hepático com dador vivo num adulto com paramiloidose. Neste caso, o pai, de 47 anos, doou parte do seu fígado ao filho, de 23 anos, que sofria da “doença dos pezinhos”.
O centro dos HUC foi, e ainda é, o único que realiza transplantes hepáticos com dador vivo em crianças, que assim podem receber parte do fígado de adultos. Hoje, em Coimbra, apesar de todos os feitos, o programa de transplantação hepática pediátrica está em risco, depois do cirurgião Emanuel Furtado, o único que os realiza no país, ter saído dos HUC para o IPO de Coimbra.
Devolver movimentos das mãos a tetraplégicos
Os HUC são palco de outra cirurgia pioneira em Portugal a 27 de outubro de 1997. Uma equipa chefiada por Abel Nascimento implanta num jovem tetraplégico de 22 anos, paralisado devido a um acidente de viação, um revolucionário sistema – o denominado Sistema Mão Livre (FreeHand System) –, que lhe permite recuperar o movimento da mão e executar tarefas básicas como comer, beber, pegar num telefone, pentear-se e trabalhar num computador.
Transplantes de coração
A 26 de novembro de 2003 Manuel Antunes inicia os transplantes cardíacos no Centro de Cirurgia Cardiotorácica dos HUC. O doente transplantado, um homem de 49 anos, residente na região Centro, que sofria de uma cardiomiopatia dilatada, recebeu o coração de uma mulher de 35 anos, vítima de um aneurisma cerebral. A intervenção foi um sucesso e logo no primeiro ano, o Centro de Cirurgia Cardiotorácica dos HUC realiza 25 transplantes de coração, um número nunca antes alcançado por nenhum outro centro em Portugal. Comparando, em 2004, os outros três centros nacionais realizaram, no total, 17 transplantes de coração.
Cirurgia à doença obsessivo-compulsiva
Também nos HUC, mas em 2006, avança no Serviço de Neurocirurgia, dirigido por Fernando Gomes, a estimulação cerebral no tratamento da doença obsessivo-compulsiva. A cirurgia – a primeira das três únicas realizadas no nosso país, todas na Neurocirurgia dos HUC – marca o início da Psicocirurgia Moderna em Portugal, mas o programa, pelo menos até agora, não teve continuidade.
Já antes, em abril de 1999, a Neurocirurgia dos HUC inovara, quando uma equipa de neurocirurgiões e neurologistas, coordenada por Fernando Gomes, efetuou a primeira cirurgia da epilepsia realizada no país com doente acordado.
Implantes cocleares no CHC
A implantação coclear é feita, com sucesso, em adultos que a dado momento ficaram surdos, e em crianças que nascem com surdez profunda ou total ou ensurdecem numa fase pré-lingual. É justamente na reabilitação áudio-oral das crianças que o Hospital dos Covões, do Centro Hospitalar de Coimbra (CHC) – o único que realiza implantes cocleares em crianças com menos de quatro anos –, desenvolveu um método inovador, que consiste na adequada programação do processador da fala a cada doente, sob a direção de Manuel Filipe Rodrigues, diretor do Serviço de Otorrino.