Coimbra: década e meia sempre a perder peso político no panorama nacional

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17 anos, os dois maiores partidos repartiam interesses, no distrito de Coimbra, numa lógica de bloco central. O PS, em ascensão, sufragava Fausto Correia com maiorias inquestionáveis. O PSD, em queda, tinha Paulo Pereira Coelho a cimentar uma liderança de fação.

Há 17 anos, o PCP despedia-se de um dirigente histórico, Carlos Fraião, e trazia do Porto Sérgio Teixeira, um “controleiro” que haveria de deixar saudades. Há 17 anos, alguns dissidentes do partido organizavam-se na Plataforma de Esquerda. A maioria dos seus membros estava “a caminho” do PS; alguns, poucos, agruparam-se depois na Política XXI, estrutura que viria, em 1999, a fundar o BE.

Há 17 anos, o CDS era um partido à deriva, com muitos históricos a afastarem-se, mas ainda longe da chegada da década de Sónia Sousa Mendes.

Antes do Bloco de Esquerda

Há 17 anos, não havia Bloco de Esquerda. O PSR era, em Coimbra, um partido sem organização local, de muitos voluntarismos e escassa implantação extra-académica. A UDP, por contra, era pouco mais do que uma memória.

Há 17 anos, o Governo Civil de Coimbra era um “feudo” da chamada ala loureirista do PSD, com Luís Pedroso de Lima a ocupar o cargo em toda a segunda maioria absoluta cavaquista,

Há 17 anos, o PS já garantia a maioria das câmaras municipais do distrito, incluindo as três maiores: Coimbra, Figueira da Foz e Cantanhede.

PS chega ao Governo

1995 foi um ano de grandes mudanças. No PSD, o tabu de Cavaco abriu a “caixa de Pandora” das divisões fratricidas que há muito minavam o partido. O “apogeu” dessa guerra de fações aconteceu no Coliseu dos Recreios, num congresso que deu a Fernando Nogueira – que tinha, na Distrital de Coimbra um dos mais importantes apoios – a sua célebra “vitória de Pirro”.

No PS, por contra, os tempos eram de euforia. Guterres ganhou o país e Jorge Sampaio seguraria, um ano depois, a cadeira de Belém. De Coimbra, rumaram ao Governo Fausto Correia, José Penedos, José Reis e Luís Parreirão. Para o Governo Civil seguiu Victor Baptista, o “número dois” da Federação socialista.

Entretanto, o espaço político exterior aos dois maiores partidos movimentou-se. Assim, o Bloco de Esquerda nasceu, em 1999, ao passo que o CDS passou a Partido Popular e ganhou, no distrito, novas lideranças.

Mas, o final de década acabaria por ficar marcado por dois referendos nacionais, que uniram a direita e fraturaram o PS. Um deles, o da regionalização, trouxe mesmo severos efeitos colaterais aos socialistas de Coimbra, que não esconderam o incómodo em apoiar o mapa proposto pelo Governo.

Um incómodo que viria, meses depois, a repetir-se, com a tentativa de fazer em Coimbra a co-incineração de resíduos industriais perigosos. Só que, desta vez, o PS/Coimbra não hesitou e afrontou mesmo a estrutura nacional, numa atitude de que ainda hoje “paga fatura”.

A mudança de ciclo

2001 abriu um novo ciclo político. Primeiro, foi a demissão de Guterres, menos de ano e meio depois de reeleito. O pretexto para abandonar o “pântano” foi a derrota clamorosa do PS nas eleições autárquicas – que ditaram, no distrito de Coimbra, um resultado histórico para o PSD, com a conquista de nada menos do que 12 das 17 câmaras municipais.

De entre os vencedores, destaque para Carlos Encarnação – um antigo secretário de Estado, que era deputado há quase uma década e que sempre mantivera ligações próximas a Dias Loureiro. Chegou à câmara suportado numa maioria de direita, ajudando também ao “renascimento” local do CDS.

O resultado prático da hecatombe no PS/Coimbra foi uma rutura também na liderança distrital, com Luís Parreirão a imitar Guterres e a abandonar o cargo. Acabou por suceder-lhe Victor Baptista, dando início a mais um ciclo de dominação absoluta.

Efeito Encarnação

Por contra, no PSD, a súbita chegada ao poder trouxe novas exigências, a que o partido respondeu mal. Demasiado dependente do “efeito Encarnação”, a mudança tardou um par de anos, com Pereira Coelho a dar lugar ao autarca histórico Jaime Soares.

Sem espaço visível no novo Governo barrosista (apenas Luís Pais de Sousa foi secretário de Estado), o partido demorou também a retomar as rédeas do poder, nas estruturas desconcentradas do Estado. Melhorou, significativamente, a presença de Coimbra no Governo Santana Lopes, com Paulo Pereira Coelho, José Manuel Canavarro.

Em 2005, regressa o PS à ribalta. José Sócrates forma governo, mas Coimbra mantém-se (cada vez mais) longe dos centros de decisão. O virar da década trouxe, porém, uma nova vitalidade À vida política local. Desde logo, pela eleição de jovens quadros para as distrais dos dois maiores partidos. Mário Ruivo, pelo PS, e Marcelo Nuno, pelo PSD, foram ambos formados na “escola” da Associação Académica e estão, hoje, ambos em linha com as lideranças nacionais dos partidos.

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