O alerta foi dado pelos vizinhos que, embora já não estranhassem os longos períodos de isolamento de José, viram com alguma desconfiança o facto de a eletricidade ter sido cortada no n.º 7 da rua Vasco Viriato por falta de pagamento.
“Ele era noctívago e isolava-se muito. Nos meses de inverno era habitual refugiar-se em casa”. Por isso, o tempo foi passando. Longe da família – a mulher, de quem estava separado, reside em Lisboa e a única irmã está num lar de idosos em Lemede – era ele próprio que se isolava do mundo. “Só bebia whisky e fumava muito”, conta Alice Rua, vizinha da frente.
“Zé Padre” – era assim que era conhecido na aldeia por ter, ainda em tenra idade, frequentado um seminário, recebia uma reforma elevada “por ter ido sargento”, e era, de acordo com a população local “uma pessoa culta”. “Mas quando bebia, era muito agreste”, relata Alice.
No entanto, na sexta-feira, as vizinhas decidiram que não podiam continuar de braços cruzados e ligaram à GNR de Cantanhede, “que 20 minutos depois estava no local.
“Quando a patrulha chegou verificou que nenhuma das portas estava fechada à chave. Ao entrar dentro da casa sentiu-se de imediato um cheiro nauseabundo”, disse ao DIÁRIO AS BEIRAS o adjunto do comando do Destacamento Territorial de Cantanhede da GNR, tenente Cláudio Miguel Lopes.
Depois de terem percorrido toda a residência, os agentes “depararam-se com o corpo deitado na cama de um dos quartos”. O corpo – de acordo com as autoridades policiais -, encontrava-se em avançado estado de putrefação.
“Estava desmembrado e existiam indícios de que o cão poder-se-ia ter alimentado do corpo ao longo deste tempo”, acrescentou fonte do comando territorial, que coloca de parte qualquer suspeita de homicídio.
Todas as dúvidas – nomeadamente há quanto tempo ocorreu a morte de José Jerónimo – serão esclarecidas durante a autópsia que será realizada hoje pelo Instituto Nacional de Medicina Legal.