Enigmas!

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Aires Antunes Diniz

Um dos economistas que escreve sobre economia portuguesa em 2010, Luciano Amaral, afirma que educação é uma “vaca sagrada” da nossa discussão política e económica, considerando ainda que é um mistério a razão porque esta não tem relação directa com o desenvolvimento. Mas, se folheasse jornais como o DN de 28 de Novembro de 2010, encontraria logo nas páginas 2 e 3 uma das razões por que a educação não tem efeitos na economia portuguesa, “13% dos licenciados vão-se embora”, demonstrando como a nossa classe empresarial não é capaz de aproveitar a mão-de-obra qualificada disponível. Poucas páginas depois, p.24, sabemos que a Parque Escolar vai passar a cobrar rendas nas escolas que bem mal intervencionou. Será mais um enigma a analisar no futuro. Na página 22, sabemos que 17,5% de alunos de Lisboa e Porto assumem pertencer a um gangue, explicando a contínua indisciplina nas escolas, resolvendo desta forma um pouco mais o enigma da fraca relação entre Educação e Desenvolvimento da Economia. Complicando tudo, na página 20 diz que o fim-de-semana dos trabalhadores dura apenas 27 horas, mostrando como a relação familiar entre pais e filhos fica reduzida a muito pouco, e, no caso particular, dos professores têm de fazer dele o tempo de preparação de aulas e correcção de testes, pois durante a semana têm de fazer muitas tarefas sem préstimo para as escolas.

E porque é que isto acontece?

Na verdade “ vaca sagrada” da educação significa também que nunca nenhum ministro é responsabilizado pelo Estado da Educação. Mas se recuarmos catorze anos encontramos Marçal Grilo que nada fez para resolver os problemas, antes introduziu no sistema educativo “reformas educativas” como o Ensino Recorrente por Unidades Capitalizáveis, aumentando o abandono do ensino nocturno quando o abandono escolar em geral já era alto. Para ele, tudo se resumia ao título do livro que escreveu “Difícil é sentá-los”. David Justino, incapaz de definir na altura os problemas da educação, escreveu agora um livro com o título “Difícil é educá-los”, mas perante os percalços em 2004 com o concurso de professores, devia ter escrito um livro sobre como “Difícil é colocá-los”. Preocupada com o custo da escola a tempo inteiro, Maria de Lurdes Rodrigues, escreveu um livro não publicado sobre “Difícil é ocupá-los” e inventou as aulas de substituição e a componente não lectiva, piorando tudo ao extenuar professores burocratizando a docência e promovendo a indisciplina com o “Estatuto do Aluno”. Ficaram felizes os que só valorizam a convivência entre rapazes e moças, fazendo das escolas o que faziam há quase cem anos o “Parque Cinema e o animatógrafo do Salão da Trindade, dois pontos predilectos da rapaziada, porque as tricanas de Coimbra e as lindas moças figueirenses fazem ali concentração”.

Mas, não é essa a missão das escolas e, infelizmente, os ministros não o sabem, tornando difícil educar e instruir. É pena e penoso.

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