Ultrapassou fronteiras, algumas imaginárias, para atingir a utopia, que está sempre para lá da próxima cadeia montanhosa e se esconde nos vales do intangível. Mas há sempre quem acredita que pode lá chegar e transformar o sonho em realidade, sem contabilizar as léguas que ficaram para trás e o infindável caminho que tem pela frente.
Fernanda Fernandes Figueiredo, a mulher dos três “efes”, nasceu em Tavarede, Figueira, há 81 anos. Fez-se à estrada e queimou etapas, em direção à quimera, desbravou obstáculos e obteve vitórias em diversas batalhas. Atualmente, vive em S. Julião, onde continua a caminhar por horizontes concretos e imaginários, indelevelmente plasmados num papel branco e ilustrados numa tela nua.
Pinta palavras com as cores da poesia e da prosa e escreve paisagens com as formas da vida e da natureza, às vezes abstrata. Costureira de profissão, escreveu no jornal “Contacto”, publicado em português no Luxemburgo para a vasta diáspora lusa que ali reside. Também fez parte da direção. “Praticamente, fazia o jornal sozinha”, afirma, encarregando-se ainda da tradução do francês para a língua de Camões.
Aprendeu costura na antiga Escola Industrial e Comercial Tomás Bordalo Pinheiro, hoje Escola Secundária Bernardino Machado, na Figueira da Foz. Tinha 21 anos quando partiu para Angola, havia casado há pouco. O casal regressou à Figueira em 1961, quando se ouviram os primeiros tiros da última guerra colonial portuguesa. Ficou na cidade um mês, que deixou para se instalar em Almada, já com dois filhos. Depois, atravessou a fronteira e instalou-se no Luxemburgo, em 1964.
Gosto pela escrita
Permaneceu naquele país do Benelux durante 18 anos. As suas mãos e o seu talento desenharam e confecionaram peças exclusivas de alta-costura para as elites locais, mas sempre com a escrita na cabeça. Fernanda Figueiredo mostra, com orgulho, uma reportagem que assinou quando Mário Soares visitou o grão-ducado, entre muitas outras que fez para o citado periódico. Era jornalista nos tempos livres, mas apaixonada pelo jornalismo a tempo inteiro. “Desde a Escola Primária que gosto de escrever”, revela.
“Gostei muito de trabalhar no jornal. Pude exprimir-me. Foi um trabalho que me deu muito prazer fazer, mas gostava de ter sido jornalista profissional”, aduz. Entretanto, escreveu dois livros, um de poesia e outro de contos. Eclética, Fernanda Figueiredo também pinta. De resto, um dos seus quadros, sobre o Forte de Santa Catarina, na Figueira, valeu-lhe um prémio no Luxemburgo.