Renato ou Carlos Castro?

Spread the love

As eleições não são fáceis. Salazar sabia-o. Parece folclore, diz Belmiro, apelando a que nos deixemos disso e comecemos a trabalhar a sério! O que faz falta é trabalhinho e é com trabalhinho que o país – o dele ou o nosso? – enriquece.

Não me espanta assim o que ouvi. No próximo domingo, declarou solenemente em plena rua central da cidade – estaria embriagado? – ele vai votar no Renato nem que seja para contrariar a mulher que declarou o seu voto em Carlos Castro. “Afinal é isso que interessa ao povo!” Depois, mais calmo mas ainda angustiado, afirmou, falando de si mesmo na terceira pessoa: “O avozinho está indeciso, acha que são todos muito parecidos, o senhor Nobre é parecido com o actual presidente, mas é apoiado por Mário Soares que é do PS, o partido que apoia o candidato do BE, o Alegre. O BE que diz ser contra o governo e anda de braço dado com os ministros nos comícios do Alegre, que é do PS, partido do Defensor, enquanto Correia de Campos que é do PS apoia Cavaco e ainda há aquele senhor fascista da Madeira. Isto está confuso. E como se não bastasse agora desataram a bater e a prender sindicalistas que, no final de um plenário, dispersavam para ir para casa. O governo de Sócrates a comportar-se como o governo de Cavaco nos célebres episódios do aumento das portagens da Ponte 25 de Abril ou caso dos “secos e molhados” quando polícias carregaram contra polícias! Lembra-se? Até lá estava o “eléctrico”, o sinaleiro que não parava um segundo. E do lado dos molhados, pois claro! Isto está confuso. E cá o avozinho não sabe para onde se virar. O que me diz, voto no Renato ou no Carlos Castro?”

“E não há outro candidato?” – perguntei-lhe. “Haver há. Há o dos comunistas. E esse é coerente. E o danado do homem diz coisas certas. Veja lá um electricista e põe os outros num canto. Defende os direitos das pessoas. Não votou nem aprova o Orçamento do Estado e todas as medidas que baixaram os rendimentos das pessoas. Não está metido no escândalo do BPN e nessas benesses todas aos banqueiros ou no Pacto da Justiça. Defende o Serviço Nacional de Saúde, os direitos que depois do 25 de Abril estão na Constituição. Mas sabe… esse é comunista! E nesses, o avozinho nunca votou!”

Ficou a olhar para mim, em silêncio, pensativo. “Oiça lá, avozinho, sempre vai votar no Renato ou no Carlos Castro?”, perguntou-lhe uma jovem que assistira a toda a conversa. “Não, menina. Isto é demasiado sério!”

Seguiu caminho, acenando. Já distante, voltou-se: “Para o que me havia de dar. A pensar, depois de velho!”

One Comment

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.