Providência diz que CDS é garante de estabilidade na câmara

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O metro e o Plano Estratégico de Coimbra estão em destaque na Assembleia Municipal de Coimbra, quarta-feira, dia 12. O vereador Luís Providência fala destes e doutros assuntos e também do CDS, de que é presidente da Concelhia.

PERGUNTA – O que pode a assembleia municipal decidir sobre o metro?

RESPOSTA – A Assembleia Municipal de Coimbra pode aprovar uma deliberação unânime – tendo até em consideração a posição do PS/Coimbra – que venha prevenir o Governo, este e os próximos, de que o Metro Mondego é um projeto que tem de ser concluído. As notícias que dão conta da posição do secretário de Estado, de que não há meios financeiros para o projeto, são lamentáveis, quando sabemos que houve condições retiradas às populações, sobretudo de Lousã e de Miranda do Corvo, e que já foram consumidos muitos milhões de euros ao erário público. E também em Coimbra há prejuízos óbvios, já que a intervenção em Coimbra obrigou à destruição de parte da Baixa. Desse ponto de vista, julgo que pode sair daqui uma posição unânime de formas de luta conjuntas dos três municípios.

P – Para além do metro, a assembleia municipal vai também discutir o Plano Estratégico de Coimbra…

R – Sim. E é uma matéria relevante que pode levar Coimbra a tomar uma posição relativamente ao IC6, que eu, do ponto de vista estratégico, considero substancialmente mais estratégico do que o metro, não querendo, claro, menorizar a situação dramática que as populações de Miranda e da Lousã vivem hoje. Mas, para o desenvolvimento da cidade e do distrito de Coimbra, parece-me estrategicamente mais importante a ligação à Beira Interior e, a partir daí, a Castela e Leão. Infelizmente, a Comissão de Coordenação da Região Norte já percebeu isso e antecipou-se. Em Outubro, estabeleceu parcerias com a Galiza e Castela e Leão.

P – Isso é uma crítica ao plano?

R – O que me parece é que o Plano Estratégico, elaborado pela Deloitte, é pouco ambicioso. Falta-lhe este rasgo de ter percebido que Coimbra, emparedada entre Lisboa e Porto, deveria ter construído a sua solução de expansão a leste, passando por uma ligação fortíssima com a Beira Interior, garantindo para Coimbra a drenagem da procura de soluções especializadas que, hoje, as pessoas da Covilhã e Castelo Branco já procuram em Lisboa. E, também, uma ligação a Espanha, ao corredor Salamanca-Burgos, que nos leva ao coração da Europa e que pode garantir a Coimbra ser o ponto de passagem de Portugal para a Europa.

P – O plano é mais do que isso?

R – Apesar de tudo, a Saúde e a Educação são os dois casos em que a identificação dos pontos fortes de Coimbra, segundo a Deloitte, está certa. É claro que são os dois clusters-chave, para o desenvolvimento da cidade, mas são óbvios e qualquer pessoa o diria com facilidade. Há depois outras análises, no plano, que são dramáticas. Por exemplo, quando constata que, no setor secundário, mais de um terço da atividade é suportado pela construção civil. Coimbra teve, de facto, no século passado, acesso a alguma indústria por decreto, como foi o caso da alimentação, mas depois não foi capaz de fazer face à macrocefalia de Lisboa, para segurar essas indústrias ou promover outras. Coimbra consegue alguma presença nas novas tecnologias, mas não é suficiente. A predominância brutal do setor terciário, acima dos 80 por cento, não é sustentável. A cidade não pode viver da construção civil que constrói T5 para médicos e advogados.

P – Este plano estratégico é o legado do supervereador João Rebelo?

R – Este é muito o plano de um homem só. O eng. João Rebelo tomou a iniciativa de mandar fazer esta análise de Coimbra e a construção da sua estratégia para o futuro, mas entendo que, depois, fechou em demasia a sua discussão e a própria forma como a organizou: foi o eng. Rebelo que, sozinho, escolheu as pessoas e organizou reuniões, que foram, a meu ver, pouco arrojadas, o que se revela nas conclusões dos grupos de trabalho, que nada trouxeram de novo, como por exemplo, a discussão do caminho de futuro para Coimbra. Na minha perspetiva, o futuro da cidade tem de ser sempre visto como o futuro de uma região. Coimbra será sempre a capital de uma grande região Centro – e penso que o será a breve prazo, com o ressurgir da regionalização. Mas, claro, só o será de forma inquestionável se ganhar essa dimensão crítica.

P – O que ganhou Coimbra com nove anos de Carlos Encarnação?

R – Acima de tudo, ganhou iniciativa. Antes do dr. Encarnação, todos nos queixávamos de coisas que, hoje, bem ou mal, estão resolvidas. Por exemplo, não havia espaços nem condições para empresas que quisessem instalar-se no concelho e acabavam por ir para Cantanhede, ou mesmo para Aveiro ou Leiria. O dr. Encarnação teve esse grande mérito de conseguir estabelecer um grande parque empresarial, o Coimbra iParque, naturalmente com condições preferenciais, mas com dimensão muito razoável. Infelizmente, o projeto foi e está a ser afetado pela crise mundial, que leva as empresas a adiar novos projetos e novos investimentos.

P – E o que perdeu Coimbra, com a atitude algo isolacionista de Encarnação?

R – Eu não penso que Coimbra tenha perdido nada com isso. Aliás, estou completamente ao lado do dr. Encarnação numa séria de atitudes que tomou, face ao comportamento verdadeiramente inacreditável e inaceitável do Governo, nomeadamente sobre o metro.

P – Encarnação é apontado como um autarca altivo que, por exemplo, nunca pedia audiências a membros do Governo…

R – Não deve ser necessário nem prática saudável andar a pedir audiências. E dói um exemplo do que deve ser uma relação entre poderes: como pode ser um secretário de Estado a definir a sede de uma região de turismo, como aconteceu no Centro. Aí o dr. Encarnação esteve bem e eu suportarei sempre a sua decisão. Outro exemplo ainda: como pode um outro secretário de Estado guardar numa gaveta, sem nunca dar qualquer resposta, um projeto da Câmara de Coimbra, relativo aos programas de Alto Rendimento Desportivo, que cumpria todas as regras impostas pelo próprio Governo para a matéria. Ainda por cima, do ponto de vista técnico, achamos que o nosso projeto é inatacável e não percebo como é que se podem gastar 14 milhões de euros num velódromo, em Anadia, para uma modalidade sem qualquer expressão, e deixe de fora um projeto, de 12 milhões, para dar guarida a modalidades como o futebol, o futsal, o basquete, o judo ou a ginástica. Ora, isto não é aceitável em democracia. E não temos de andar a pedir audiências ao senhor secretário de Estado. E também não vou para Lisboa andar a fazer esperas aos governantes.

P – O que vai mudar no turismo de Coimbra?

R – Boa pergunta. Mas vem cedo. Em primeiro lugar, tenho de ter um retrato fiel do que é a atual empresa municipal. Como é sabido, na última assembleia municipal, houve uma tentativa, por parte do Bloco de Esquerda, de fazer aprovar uma proposta para a extinção da empresa e eu quero estar em condições, na próxima reunião ordinária, em Abril, de poder dizer se o BE tem ou não razões para tal. Quero crer que não. O documento do partido é exagerado e a verdade é que a empresa fez uma série de coisas que não eram feitas pela antiga Divisão de Turismo da câmara municipal. E, por outro lado, em rigor, os orçamentos são mais baixos na empresa do que eram antes.

P – Como avalia a situação de um antigo diretor municipal estar a ser julgado por crimes cometidos no âmbito da sua atividade na câmara?

R – É lamentável que haja alguém, que exerceu um cargo de responsabilidade na câmara, por nomeação, esteja a ser julgado por um número significativo de crimes, que se prendem com a atividade municipal. Eventualmente, é mesmo um dos pontos negativos destes 10 anos, que vai marcar os mandatos da coligação, nomeadamente no Urbanismo.

P – Qual é o futuro da coligação PSD/CDS/PPM em Coimbra?

R – São três anos em que é preciso provarmos uns aos outros de somos capazes de trabalhar em conjunto e com confiança uns nos outros. Se continuarmos a apresentar projetos e conseguirmos realizar obra, num clima de confiança, estarão reunidas condições para que a coligação volte a apresentar-se aos conimbricenses. Mas para isso é preciso que um dos parceiros, o maior, revele respeito por um dos mais pequenos, o CDS. E também que o PSD manifeste reconhecimento pelo papel do CDS nesta coligação, que é o de garantir alguma estabilidade, como já aconteceu no passado, quando o PSD passou por momentos de crise, no partido e na câmara, e até agora, com novo momento de turbulência, de novo no seio do PSD, com a saída do dr. Encarnação, que não pode ser imputado ao CDS. Noutro plano, sublinho que o CDS avançou, em 2001, para uma coligação em que, por aplicação direta do método d’Hondt, teria direito ao 5.º ou 6.º lugar, e hoje tem claramente direito ao 3.º. Ora, se a correlação de forças se mantiver como está, pode sempre manter-se a coligação – já o prof. Freitas do Amaral dizia, nos anos 80, que uma coligação só tem estabilidade quando envolve um grande partido e outro mais pequeno e nunca quando se aproximam muito, em dimensão.

P – O que mudou na estratégia do CDS?

Em termos nacionais, o dr. Paulo Portas tirou uma lição séria da passagem do dr. Ribeiro e Castro pelo partido, compreendendo a importância das organizações locais e fugindo da lógica de Lisboa, Porto e Aveiro. Em relação a Coimbra, particularmente desde que chegámos à câmara, sempre assumimos a lógica de que o partido, antes de crescer para fora tem de crescer internamente. E conseguimos. Basta ver que, em todo o país, o concelho de Coimbra foi o terceiro que mais cresceu, em novos militantes.

P – Dentro de um mês haverá eleições para a Concelhia do CDS, que lidera. Confirma que não se recandidata?

R – Seguramente. Mas entendo, no entanto, que pode e deve haver espaço para que as pessoas que integraram este projeto poderem dar-lhe continuidade, nesta perspetiva de chegar às pessoas, que era uma coisa a que o CDS, em Coimbra, não estava habituado, pois havia a ideia de que o partido podia ser um grupo de cinco ou seis cabeças pensantes da cidade.

P – Quem vai ser o candidato?

R – Poucas pessoas, nos últimos anos, em Coimbra, trabalharam tanto para o CDS como o João Madeira, nomeadamente na filiação de pessoas. Quem dirige deve estar preparado para, quando está no poder, fazer crescer o partido. Neste contexto, aliás, não faz sentido estar quatro anos como vereador e não fazer uma única filiação.

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