No começo de um novo ano, renovando votos de força e atitude para enfrentar as dificuldades, a pouco mais de uma semana das eleições presidenciais e com os “mercados” à perna, depois de anos de desperdício, irrealismo e demagogia, lembrei-me de uma fábula que talvez nos ajude a reflectir sobre o modo de encarar o futuro.
Numa determinada casa, vivia uma comunidade de simpáticos e felizes ratinhos. A vida corria-lhes muito bem porque todas as suas necessidades básicas eram satisfeitas sem grande esforço, até que, num dado dia, apareceu um gato lá por casa. A partir desse dia, a qualidade de vida dos ratinhos piorou, alguns ratinhos pereceram à agilidade e esperteza do gato, que transformou o dia-a-dia daquela comunidade num terror e desconfiança permanentes.
Após muitos dias a sofrer, a comunidade não teve outro remédio senão reunir em assembleia para debater o seu futuro. Depois de horas a discutir e a diagnosticar o problema, numa assembleia exausta e vencida pela falta de soluções, um dos ratos que parecia ser o chefe levantou o braço e deu uma sugestão para resolver o problema que os estava a destruir – colocar um guizo no pescoço do gato, serviria para os avisar da aproximação do felino, permitindo assim que tivessem tempo para se escaparem. A assembleia aplaudiu de forma ruidosa, a excelente ideia do rato guru e anuiu unanimemente sobre aquilo que seria aparentemente a sua salvação.
A agitação foi interrompida por um pequeno ratinho. Depois de pedir permissão para intervir, de forma tímida, perguntou à assembleia quem ficaria responsável por colocar o guizo no pescoço do gato?… A assembleia regressou ao silêncio e ao imobilismo.
Portugal vive um drama similar. Nas várias políticas sectoriais, da educação à justiça, na economia, na coesão territorial, na reorganização do Estado, os problemas estão identificados, os diagnósticos repetidos mas, invariavelmente, tem faltado capacidade e coragem para a implementação das acções adequadas à resolução dos vários problemas, ou seja “colocar o guizo no pescoço do gato”!
Claro que “colocar o guizo no pescoço do gato” pressupõe protagonistas capazes de romper com o passado, livres de amarras e cientes da importância que a “acção” terá no futuro de todos os Portugueses.
Uma nota final sobre as eleições Presidenciais. Estamos a uma semana das eleições que elegerão o próximo Presidente da República de um país que está a passar por graves problemas devido à falta de sentido estratégico das suas políticas de governação.
Em lugar de haver um debate esclarecedor sobre as várias visões de desenvolvimento para Portugal, sobre a Constituição, sobre os objectivos nacionais, temos uma campanha concentrada na demagogia e na tentativa desesperada de julgar o carácter do único candidato com competências para perceber e estar à altura dos problemas da Nação.
Na realidade, gostando-se mais ou menos do estilo, o professor Cavaco Silva realizou a quase totalidade do seu mandato, acompanhado de um governo do PS com maioria absoluta na Assembleia da República e sempre muito ciente de tudo o que havia para fazer.
Apesar disso, o Presidente da República foi dando importantes sinais que poderiam ter sido mais ouvidos pelo Governo do PS. Por essas razões, é ridículo o argumento político do candidato apoiado, ao mesmo tempo, pelo partido do Governo e por outro partido que quer tudo menos governar, ao afirmar que estas políticas têm o cunho do PR. É impossível ser-se mais demagogo.
Quanto aos outros candidatos, infelizmente, têm mostrado muita falta de preparação para serem, desde logo, candidatos à Presidência da República Portuguesa.
Seria bom que os candidatos à PR fossem exemplares e ajudassem a credibilizar a política, centrando o debate, nos problemas e nas soluções para Portugal, em vez de se tornarem contribuintes activos para a sua crescente descredibilização.
Neste caso, também não chega apregoar, é preciso agir e “colocar o guizo no pescoço do gato”!