Badajoz, Badajoz, Elvas à vista!

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Chego a casa ao fim de um dia de trabalho e leio as notícias. Tento fugir às desgraças nacionais, capazes de desencadearem crises depressivas ao mais empedernido dos humanos, mas não consigo. Procuro algo menos deprimente e esbarro numa, muito interessante, relacionada com a entrada em vigor da nova legislação antitabágica espanhola. A lei proíbe que se fume em todos os espaços fechados, em todos os recintos hospitalares, incluindo as zonas ao ar livre, como as áreas de ócio infantil abertas. Medidas ajuizadas que estão a provocar reações estranhas em alguns “españolitos” nicotino dependentes, que, em represália contra a lei, decidiram passar a ir a Elvas comer, porque muitos restaurantes portugueses permitem matar o vício entre duas garfadas ou entre “dos copitas”. Os agentes de restauração da raia portuguesa esfregam as mãos de contente, e estão convencidos de que o negócio vai melhorar. Triste ilusão.

Faz todo o sentido proibir que se fume em todos os locais fechados. Apesar da legislação portuguesa permitir que se fume nalguns espaços, desde que estejam criadas certas condições, foi apenas um mero remendo com o objetivo de minimizar as reações negativas dos homens de negócios da restauração, que, mesmo assim, estrebucharam, fazendo-se acompanhar dos indefetíveis viciados, alguns dos quais não tiveram tento na língua. Recordo, perfeitamente, os epítetos de fundamentalistas, de talibãs, de fascistas, de nazistas, palavras carregadas de uma raiva sem limites para quem tem de repor hora a hora, ou ainda menos, os seus níveis de nicotina sérica, desprezando, ostensivamente, os que têm de fumar contra a sua vontade.

Os trabalhos científicos sobre esta matéria, fumo passivo, não são de agora, há muito que se sabe sobre a sua nocividade. De qualquer maneira, e para exemplificar, as crianças são muito vulneráveis aos efeitos do tabaco. Assim, os pais que, em princípio, e por definição amam os seus filhos, não podem, não digo que não devem, repito, não podem fumar ou conspurcar o ambiente, porque provocam graves problemas de saúde nas crianças. Ao fim de alguns minutos de exposição ao tabaco ocorrem alterações genéticas e, em caso de dificuldade em as reparar, poderão ocorrer graves problemas a médio ou a longo prazo. Os filhos de fumadores apresentam, também, valores da pressão arterial mais elevada, a qual constituirá um ponto de partida para aumentar o risco cardiovascular no futuro. Por dia estima-se que morram 3.000 pessoas por cancro do pulmão devido ao fumo passivo. Se adicionarmos as provocadas por outras patologias, sobretudo cardiovasculares, é fácil de concluir o enorme potencial de prevenção que está debaixo da assinatura do legislador. Os que fumam podem continuar a fazê-lo, mas têm de respeitar regras, cada vez mais apertadas, a fim de que seja salvaguardada a saúde dos outros e a dos seus filhos. Os problemas relacionados com a nocividade do tabagismo passivo, como já afirmei, não são de hoje, o que surpreende é o laxismo, a lentidão e a inércia por parte dos responsáveis políticos ao não porem travão a concretas violações ambientais. Alguma coisa já foi feita, mas há ainda muito mais por fazer. Quando? Só depois de muitas pessoas morrerem, desconhecendo que o seu sofrimento poderia ter sido perfeitamente evitável.

Muitos dos riscos que nos cercam são desconhecidos, ou, então, não conseguimos eliminá-los, o que é perfeitamente humano, mas quando temos conhecimentos de elevada qualidade, e em quantidade, o que impede corrigi-los? A par do egoísmo de muitos, há quem veja uma forma de melhorar o negócio, borrifando-se para a sua saúde, a dos seus trabalhadores e a dos seus filhos. Sempre são uns euros a mais que entram no bolso, que, no caso de Elvas, ainda pode ajudar a encher o depósito de gasolina em Badajoz. Entretanto, os “españolitos”, felizes por encherem a mula, e de terem despejado baforadas de tabaco em espaços fechados, regressam a Badajoz à espera dos seus euros pródigos…

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