Por me lembrar que lerei esta minha crónica quinzenal em dia de reflexão, dei por mim a decidir rapidamente sobre um tema de que aqui nunca escrevi uma linha. A nossa ACADÉMICA.
Uma boa causa para defender e o assunto futebol para analisar.
Da instituição que tantos e tantos acolheu e ajudou, já muito e bem se escreveu. Mas nunca será demais, face à sua riqueza histórica de que o País se orgulha. Foram tantos os feitos, muito mas muito para além do desporto, que a Académica granjeou o respeito do País, mesmo daqueles que interiorizando um regime, sabiam que na nossa Academia estava a crescer uma onda de contestação. E quem vinha jogar para a Académica não tardava a colher a inspiração da revolta e da conquista. Coimbra era mesmo uma lição.
Quantos de nós, nascidos por estas Beiras, não sonhávamos aqui aprendê-la, cultiva-la e transportá-la para as gerações futuras?!
Entretanto, muito mudou. O País e o Mundo conheceram profundas transformações, mas ainda hoje as palavras têm um significado profundo.
Falar da Académica, da Briosa, é muito mais do que futebol. É mesmo um estado de espírito que se sente e que se vive em muitos momentos. Mas convenhamos, também é o futebol que nos une, mesmo que em cada momento possamos assumir divergências estratégicas.
E quando assim é, ao menos é porque há debate. É porque se apresentam modelos alternativos de gestão, enfim, é porque se vive intensamente a instituição, muito para além dos resultados.
Sei bem quanto estes condicionam muita coisa. Mas acredito que vêm aí tempos que exigem a tal reflexão tão adequada a este dia de leitura. Vem isto a pretexto duma bem interessante entrevista de Rui Jorge, treinador da Selecção Sub-21. Diz ele, e cito, que “temos dificuldades em encontrar jogadores portugueses” e afirmava que dos 481 seleccionáveis, apenas seis foram utilizados na I Liga mais de 90 minutos. Ora, se isto não fizer pensar os responsáveis, que futuro temos para os nossos jovens futebolistas?!
Ou muito me engano, ou aqui está uma causa que mais cedo do que mais tarde tem de ser abraçada com todas as forças.
A Académica tem de estar na primeira linha.
Ou muito me engano, ou a realidade económica e social vai impor isso mesmo.
Por mim, preferiria que nos preparássemos para esses novos tempos. Assim talvez voltássemos a liderar um tempo novo do futebol.
Neste contexto, não resisto a citar João Maló no prefácio desse magnífico livro “Académica, História do Futebol”, da autoria de João Santana e do saudoso João Mesquita. Num subtítulo lê-se: “há que parar para pensar”. Mas depois a introdução dos autores termina desta maneira tão bela:
“Que todos quantos gostam da Briosa reflictam sobre isso. (…) Assim como não se pode amar o que não se conhece, também não se pode pensar o futuro sem se saber nada do passado”.