A chuva persistente e intensa acompanhada de frio, intempérie que fustigou Coimbra no passado domingo, mostrou-nos uma Baixa despida de gente, com quase todo o comércio encerrado (era domingo do Advento).
A razão da nossa presença naquele espaço citadino, naquele dia e com aquele tempo, prendeu-se com a actuação do Coro Municipal de Carlos Seixas na Casa dos Pobres que, em jornada natalícia dava as Boas-Festas aos utentes da Instituição.
A atitude digna de todos os encómios conciliou uma dádiva de amor e uma partilha da música aos que não podem assistir a actividades deste género em locais próprios. E, o Coro entendeu que a música deve ser para todos, sejam milionários ou intelectuais, pobres ou abandonados, políticos ou religiosos. E, com essa pureza de coração e objectivo a concretizar, o Coro fez felizes, durante bastantes minutos, aqueles que precisam de elevar o espírito e recordar o Natal que viveram quando estavam em casa da família, se acaso viveram o Natal de Cristo.
O Coro Municipal Carlos Seixas que foi fundado depois da proposta que elaborámos e levámos ao Executivo, com o prévio acordo do Dr. Carlos Encarnação, e que mereceu a aprovação, por unanimidade, em 7 de Maio de 2007, ficou constituído, integralmente, conforme o que estabelecemos no projecto da sua criação, por funcionários do Município (talvez, o único a nível nacional com estas características).
Dirigido, desde o primeiro dia, pelo maestro João Santos, que aceitou o nosso convite, tem merecido o aplauso geral apesar do seu curto mas prestigiante percurso no movimento coral, testemunhado nas actuações na cidade e no País, bem como a realização, em 2008, do 1º. Encontro de Coros de Coimbra.
O Coro veio engrossar o número de coros conimbricenses, um movimento desenvolvido em Portugal entre os finais do século XIX e o princípio do XX, de que é exemplo o Orfeão Académico de Coimbra (a festejar 130 anos) fundado por João Arroyo, ainda estudante, e continuado por António Joyce. Coros de amadores que incluem nos seus propósitos a componente social e pedagógica, que se manifesta “como uma aspiração por parte do povo à cultura”,como escreveu Lopes Graça.
Embora o canto seja uma das mais espontâneas manifestações do instinto artístico, transcrevendo, ainda, Lopes Graça, organizá-lo coralmente entre indivíduos que, muitas vezes, não possuem conhecimentos bastantes de educação musical, é difícil e requer muito esforço e muita boa vontade.
O Coro Carlos Seixas aufere, na quase totalidade, como nos informaram, dos pressupostos invocados por Lopes Graça, mas os seus componentes, femininos e masculinos, possuem entusiasmo, determinação, querer e entrega à música sem limite, pugnando por divulgar a cidade, o Município e a cultura, transportando uma imagem de fraternidade que deve unir todos os homens para haver uma sociedade perfeita.
E, o maestro é o motor pedagógico e educativo indispensável para activar o instinto artístico que mora em cada elemento, porquanto quem trabalha todo o dia e se priva do tempo de lazer e de descanso para se entregar á aprendizagem e ao exercício da música, ignorando os fins de semana das actuações, tem de ter coragem e vontade e um timoneiro à altura do cargo.
A actuação do Coro centrou-se em canções de Natal e finalizou com “Coimbra”, canções que fizeram vibrar e emocionar corações e elevar até às galáxias celestiais os sons musicais saídos das vozes diamantinas dos solidários coralistas do Coro Municipal Carlos Seixas, em missão de paz e amor levada aos utentes da Casa dos Pobres.