A Casa dos Pobres de Coimbra vai inaugurar no início do próximo ano instalações semelhantes às de um hotel de categoria elevada, fruto de muito trabalho social.
A viver os seus 75 anos, a instituição ousou avançar com um projeto. Juntando financiamentos públicos a dádivas de cidadãos e empresas reuniu os 2,5 milhões de euros necessários para uma unidade residencial de 60 utentes, apta a dinamizar outras valências de apoio a idosos.
A Segurança Social cedeu o direito de superfície de um terreno com 13 mil metros quadrados, o Estado contribuiu com 664 mil euros através do PIDDAC e o resto veio da generosidade da sociedade. “A mudança de instalações é fruto de um sonho que tive quando vim para cá em 1986”, confessou o presidente Aníbal Duarte de Almeida. O sonho tornou-se real “sacudindo a sociedade”, aproveitando as suas relações criadas enquanto técnico oficial de contas e colunista da imprensa local.
Há uma década com um pequeno grupo de amigos criou “os românticos”, que se juntavam para almoçar. O grupo foi engrossando e tem almoçado todos os meses na própria instituição. Quem vai lá deixa aquilo que iria gastar num restaurante.
No almoço de novembro passado eram mais de meia centena, de diversos estratos profissionais, e no final um deles, ainda a viver o luto de um filho falecido precocemente, decidiu doar os três mil euros que recebera de herança. Há uns tempos atrás apareceu um cidadão dizendo que soubera pela internet e que queria contribuir para as novas instalações, deixando um cheque de 20 mil euros, conta Aníbal Duarte de Almeida.
“Com vários gestos, vários donativos, iniciativas, festas de Natal, a Casa dos Pobres foi dilatando confiança, as pessoas perceberam a mensagem, e conseguimos o dinheiro para as novas instalações”, em S. Martinho do Bispo.
Os jantares de classes profissionais, e os de Natal, como os que irão acontecer em breve, com os juízes e procuradores do Tribunal de Coimbra, e a Direcção Distrital de Finanças, têm sido outras vias de “responsabilizar a sociedade, a proteger os mais desfavorecidos”.
“Aqueles que nada tinham, alguns deles a viver em barracas, terão instalações condignas com casa de banho privativa, com quarto que suplanta muitos de hotel de cinco estrelas”, confessa entusiasmado o presidente, revelando que equaciona ajuda psicológica para os utentes aprenderem a lidar com um conforto nunca antes desfrutado.
Entretanto, os atuais 49 utentes preparam a despedida de umas velhas instalações arrendadas há uns anos pela Câmara de Coimbra na Praça do Comércio, depois de os retirar do Pátio da Inquisição, onde se fixaram a 8 de maio de 1935.
“Com crise ou sem crise, aumentam sempre os pedidos de auxílio”. Em lista de espera são 430, e é preciso continuar a agitar a sociedade, porque os contributos das suas parcas reformas e da Segurança Social não chegam para os sustentar, afirma o presidente.