Caridade ou salários?

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O Natal é “época da família”, ouvimos dizer. Mas muitos têm cada vez menos direito a uma consoada junto dos seus, a tempo e horas, porque as jornadas de trabalho se prolongam até à última. Não estou propriamente a falar de serviços de segurança, transportes ou saúde, mas do prolongamento dos horários do comércio, em particular das grandes superfícies, cujos trabalhadores estão sujeitos a um intenssíssimo ritmo de trabalho nesta quadra. Trabalhadores e trabalhadoras, em particular mães, cujos filhos só vêem ao deitar.

Horários de trabalho cada vez mais desregulados, e alargados, feitos à medida da maximização do lucro dos grupos económicos e em detrimento da vida de cada um. Horarios do comércio que o Governo fixou entre as 6 e as 24 horas, Sábados, Domingos e feriados, para que as centenas de milhar de trabalhadores levem ao fim do mês o salário mínimo, ou pouco mais, para casa.

Horários de trabalho e salários. Apesar de tantos avanços, de tantas conquistas do ser humano, é aí, que se concentra a essência da exploração do trabalho humano. Quando falamos em alargar a jornada de trabalho e baixar o valor dos salários, não estamos a falar do século XIX da revolução industrial, mas do século XXI, do nosso país, do nosso tempo.

Um tempo onde a palavra e o compromisso valem muito pouco (ou quase quase nada). O governo rasgou esta semana o compromisso de aumento do salário mínimo (SMN) para 500€ em Janeiro de 2011 ao anunciar escandalosamente a decisão de roubar 15€ aos mais de 500 mil trabalhadores abrangidos. Governo PS, patronato e UGT assumiram um aumento de 0,33 cêntimos/dia. Isto quando dentro de dias tudo ficará mais caro – transportes, água, electricidade, gás, medicamentos, pão, leite e outros bens de primeira necessidade – e a vida mais difícil para milhões de portugueses.

Teremos no entanto, todos os dias na TV, caridade em doses industriais, com o actual Presidente e candidato Cavaco Silva a desdobrar-se em declarações sobre a pobreza – tentando assim limpar-se das suas pesadas responsabilidades no país. Mas atrevo-me a dizer, fiquem com a caridade, e aumentem os salários e as pensões.

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