Lídia Lopes, 91 anos, solteira. Dedicou grande parte da sua vida à comunidade de Lavos, tendo sido a única enfermeira-parteira daquela freguesia. Sábado (13), as suas mais de quatro décadas de trabalho foram reconhecidas. Cerca de 300 pessoas reuniram-se no restaurante “A Quintinha das Carreirinhas”, em Regalheiras, para prestar homenagem à “menina Lídia”.
Feliz com a surpresa, de que “não estava nada à espera”, disse ao DIÁRIO AS BEIRAS, a “menina Lídia” falava das memórias, que a idade não apagou, sempre com boa-disposição. Já perdeu a conta às crianças que ajudou a nascer mas garante que foram mais de cem. “Algumas já nem me lembro delas, outras até já morreram”, conta. Aqui e ali, ouviam-se as vozes de quem sabia que tinha vindo ao mundo com a ajuda das suas mãos.
Lídia Lopes ri-se ao recordar as injeções que chegou a administrar no meio da estrada ou as noites mal dormidas sempre que lhe batiam à porta a pedir ajuda. O pagamento era, na maior parte das vezes, feito em géneros alimentares. Foi essencialmente para os pescadores que trabalhou dias a fio, numa altura em que os postos médicos ainda estavam longe de chegar àquela freguesia.
Apenas a primeira homenagem
Sem qualquer formação, a “menina Lídia” aprendeu com a prática o ofício que lhe valeu o reconhecimento de toda uma comunidade. De lugar em lugar, valia-lhe o seu Fiat 600, que ainda hoje conduz. “E pega à primeira”, afirma. A festa que teve Lídia Lopes no centro das atenções foi organizada por seis lavoenses, cinco mulheres e um homem. Um grupo de amigos que partilham ideias e unem esforços para as pôr em prática.
O presidente da Junta de Lavos José Elísio também não quis passar ao lado da iniciativa. A junta, disse, “associa-se com todo o gosto a esta justa homenagem”, pelo “trabalho indiscutível da menina Lídia em prol da comunidade lavoense”. Contudo, adiantou, está confiante de que esta foi apenas a primeira homenagem à enfermeira. A outra, diz, será “quando o conta-quilómetros chegar aos cem”.