Recordo ter estado como convidado num mini conselho de ministros em Trás-os-Montes. Na altura, decidi intervir e quis saber que política havia no nosso país em relação à agricultura. Expus então que a agricultura era um estrutura estratégica e que não podia andar ao sabor das modas. Afirmei que o sector, já naquela altura, não podia pagar impostos, nomeadamente, à segurança social. Recordo, por exemplo, que na altura se propunham viabilizar o complexo agro-industrial do nordeste que, em minha opinião, podia dar um empurrão a uma actividade e sector que vive momentos muito difíceis no nosso país. A viabilidade desta estrutura foi prometida, mas foi promessa não comprida. Estruturas como aquela não eram para se deixar cair, eram para ser implementadas e aprovadas em lugar estratégicos em todo o país.
Com o colapso do projecto, deixa de haver política agrícola em Trás-os-Montes. O que arrasta, infelizmente, a ausência de garantia para o escoamento dos produtos produzidos pelos agricultores, como o vinho, as frutas, o azeite, a batata, o milho. E posso afirmar, sem receio de ser contrariado, que os produtos transmontanos, dado as características dos seus solos e clima, são do melhor que se produz em qualquer parte do mundo.
Há três anos, o azeite da minha Cooperativa ganhou a medalha de ouro em Nova Iorque, e fica em Paris entre os 10 melhores azeites do mundo. Pasmem! O azeite desta mesma qualidade valia há 10 anos, duas vezes mais do que este ano! É claro que me refiro a esta região do país porque a conheço bem e sei as dificuldades com que se debatem os seus agricultores. Mas esta preocupação pode estender-se a todo o país, muito em especial às regiões do interior.
Que política a seguir, então, para inverter a nossa realidade? As soluções são várias, mas apostar seriamente na agricultura é, em meu entender, uma das fundamentais.
Vejamos, então.
1 – decidirem-se, deixando-se de pantominices, que tem de haver uma melhor política agrícola;
2 – que essa política agrícola aponte para a prática de um preço justo – para os produtores e consumidores;
3 – que os senhores consumidores passem a dar preferência aos produtos nacionais, até porque são os melhores;
4 – que as nossas regiões tenham estruturas de recepção, embalamento, distribuição e industrialização (dos excedentes) dos produtos agrícolas
5 – assistência competente, que não há, à agricultura e ao agricultor;
6 – rentabilização da Estação Zootécnica Nacional e Estação Agrícola Nacional;
7 – reserva de sementes;
8 – reserva de alimentos
9 – que as equipas governamentais da agricultura conheçam o sector e os seus problemas
10 – que o próprio ministro da Agricultura, não só conheça, mas que de preferência, seja agricultor. Como é que um homem pode avaliar as dores do parto, se nunca teve filhos? Só o poderá avaliar se tiver tido uma cólica renal e por comparação com o que dizem as mulheres, “uma cólica renal é muito pior do que ter um filho”.
11 – que todos os lugarejos – aldeias ou vilas – façam um plano estratégico para cinco anos, para segurar as pessoas permitindo reactivar a agricultura, fixar a mão-de-obra das empresas e repovoamento do interior;
Atenção! O desespero espreita.
Não há sábios! Vamos pensar e agir com verdade e seriamente!