Parabéns, Orquestra Clássica do Centro

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Na calota que antecede a entrada no Mosteiro de Santa Cruz (Igreja), frente à imponente fachada, templo que guarda os restos mortais dos nossos primeiros reis – Dom Afonso Henriques, fundador da Nacionalidade e da Monarquia, e Dom Sancho I, seu filho e Povoador do Reino então existente – aconteceu um concerto comemorativo do centenário da implantação da República, organizado e realizado pela Orquestra Clássica do Centro.

Um concerto inesquecível. No interior da igreja, por certo, ouviam-se os acordes melodiosos que os instrumentos tocados pelos magníficos músicos da orquestra faziam chegar aos ouvidos da numerosa assistência que, em frente do templo, assistia. Por isso, supomos que o Monarca, Dom Afonso Henriques, tivesse “acordado” do seu sono celestial e comungasse do momento musical que decorria no espaço que ele tantas vezes teria pisado. Mas, talvez, “cogitasse”, que foram precisos muitos sacrifícios, lutas e coragem, seus e dos seus homens, para se poderem festejar cem anos de um regime que substituiu a Monarquia por ele criada e que durou 767 anos. Porém, pensamos, terá concluído o seu pensamento, aceitando, que as sociedades não são imutáveis. E, outros portugueses entenderam transformar uma Monarquia Constitucional numa República. Patrioticamente … recolheu-se ao paraíso.

No concernente ao inolvidável concerto, preenchido com músicas de inesquecíveis compositores, a Orquestra contabilizou nova lição musical, prestigiada pela qualidade que imprime às suas actividades e na linha orientadora que, desde a fundação, faz jus à sua existência. As notas musicais que soaram pelo secular, religioso e histórico lugar da Praça oito de Maio, ofereceram um espectáculo elaborado com rigor e arte para festejar a República. Os valores que validam o projecto musical, pedagógico e social da instituição, aliaram-se, e o programa abraçou as componentes que enobreceram a extraordinária exibição orquestral.

A coesão harmoniosa, o fulgor, o esplendor e a musicalidade, acrescidos do equilíbrio sonoro e cativante, da força contagiante dos acordes rítmicos dos diferentes andamentos das composições – andante grazioso, moderatto, allegro, marcha – mostraram a postura e profissionalismo dos quarenta músicos e do saber do maestro Artur Pinho Maria. A grandiosidade musical prendia, emocionava, exigia silêncio e elevação às centenas de espectadores que bebiam com prazer o alimento que lhes entrava no ego. Sublime audição de hora e meia, em que Haydn marcou presença com a Sinfonia 100 em Sol M “Militar”; Beethoven que ofereceu “A Batalha da Vitória, op. 91-I e II; Alfredo Keil que doou “A Portuguesa, Hino Nacional” desde 19 de Junho de 1911; Luís Freitas Branco que criou “Suite Alentejana”; Francisco Lacerda que legou “Almourol” e “Trovas”; e, como homenagem imorredoira à República, Rui Paulo Teixeira, compôs e apresentou, em estreia absoluta: “Celebratio”, uma composição que buscou na essência do centenário, a beleza e o pendor que espiritualizam a efeméride republicana. Mas, o concerto trouxe, ainda, momentos fulgurantes e cheios do ardor da disputa política, com os militares da Brigada de Intervenção a fazer rufar, vigorosamente, os tambores (caixas), enquanto as trompetes com os seus sons estridentes, incutiam o ambiente adequado à composição. E, da varanda do Município, donde os militares soltaram os acordes, Manuel Rebanda declamou, maravilhosamente, o poema “Nevoeiro”, de Fernando Pessoa.

Todavia, o concerto alcançou, ainda, com a voz melodiosa da Soprano de craveira internacional, Dora Rodrigues, nos poemas de Francisco Lacerda e na entoação, com toda a assistência, em pé, a cantar, emocionada e vibrante o “Hino Nacional”, novo esplendor. Um concerto de manifesta intensidade tímbrica e orquestral.

A Orquestra Clássica do Centro ofereceu um espectáculo memorável, com um orçamento muito abaixo do praticado por outras orquestras nacionais. Nós, que firmarmos o acordo com a Presidente, Emília Martins, entendemos que a Orquestra não esqueceu o superlativo apoio da Câmara de Coimbra. Por isso, obrigado e parabéns.

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