Matança pública do porco em Miranda do Corvo

Posted by

Os dois principais objetivos da constituição da Confraria da Matança do Porco em Miranda do Corvo foram alcançados em pouco mais de um ano: por um lado afirmar-se como espaço de cultura e gastronomia, por outro mostrar que esta tradição enraizada no mundo rural português tem fortes razões para continuar a existir, ao contrário “de algum fundamentalismo que a ASAE chegou a querer impor, seguindo normas comunitárias”.

Quem o diz é o confrade-mor, Jaime Ramos, que ontem recebeu membros de 16 outras confrarias do país, de Espanha e de França, para assinalar o segundo capítulo da instituição. O médico confessou que “esta confraria surgiu como uma espécie de grito de revolta pela tentativa da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) querer sufocar aquilo que é uma parte do mundo rural”. Quase dois anos passados já é pacífica a autorização para fazer a matança do porco em casa, desde que se respeitem as normas sanitárias. Foi o que aconteceu ontem no Parque Biológico da Quinta da Paiva, onde esteve um veterinário para assegurar as normas de higiene e segurança alimentar.

De resto, foi o Grupo Etnográfico Tecedeiras dos Moinhos que assumiu a tarefa, num trabalho de reconstituição histórica. O encenador, António João Lucas, explicou que alguns dos homens que mataram o animal também o fazem a título particular, mas a sua experiência foi adquirida principalmente através das cerca de duas dezenas de matanças do porco que o grupo já executou ao longo dos seus 37 anos de existência.

O dinamizador local recorda que “todos nós fomos aprendendo o nosso papel nesta verdadeira festa de família e de aldeia”, recordando que “quando era miúdo cabia às crianças aparar o sangue e cortar a orelha do porco depois de morto”.

Um gesto repetido ontem, bem como o estonar da pele do animal com carqueja a arder, a que se seguiu a abertura da carcaça do porco, com aproveitamento de todas as suas partes, desde a carne às vísceras, aproveitadas para fazer logo ali as morcelas.

Seguiu-se a refeição, não sem que antes se procedesse à entronização de 18 novos confrades, que se juntaram aos atuais 85 membros.

3 Comments

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.