Na secular igreja de Cernache, da invocação de Nossa Senhora da Conceição, ocorreram as solenes exéquias de sufrágio por alma do Prof. Doutor Aníbal Pinto de Castro, um grande humanista e um brilhante intelectual, natural daquela freguesia e falecido na véspera. A cerimónia foi concelebrada pelo Bispo de Coimbra, D. Albino Cleto.

O templo encheu. Naturais da povoação, pessoas de diversos níveis e escalões etários e representantes de diferentes instituições – académicas, culturais, religiosas, sociais, associativas, jurídicas e políticas – testemunharam à memória do Catedrático Jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, o agradecimento e o reconhecimento público, na hora da despedida, por tudo o que fez e deixou em prol da cultura, das humanidades, da língua portuguesa, do humanitarismo, pelo seu Cernache e pelos seus semelhantes e irmãos em Cristo.

D. Albino, na sua eloquente e expressiva mensagem (homilia) foi esclarecedor do valor do Provedor da Santa Casa da Misericórdia conimbricense, e grato, mesmo reverente, ao aludir, emocionado, à vida de dedicação universitária, cultural, de fé e amor a Deus e de bem fazer, do inesquecível Professor das Letras. Um homem bom.

A nossa relação de amizade, respeito, admiração e de trabalho com o Doutor Aníbal remonta a muitos, muitos anos, quando nos convidou para integrar os Corpos Sociais da Casa da Infância Doutor Elysio de Moura, de onde não voltámos a sair, nem o Professor, e que propiciou o cumprimento agradável de uma missão altruísta em favor das meninas necessitadas de carinho e amor.

Posteriormente, trabalhámos com aquela extraordinária personalidade na Misericórdia, de que somos irmão; na Fundação da Casa Camilo Castelo Branco (era Presidente) sediada em S. Miguel de Seide e integrados nos Corpos Sociais em representação do Município de Coimbra; partilhámos a Comissão Executiva das Comemorações dos 650 da morte de D. Inês de Castro; e tivemos a alegria de nos facultar a Igreja do Convento de Santa Clara-a-Nova para realizar concertos musicais da responsabilidade da Câmara e da Orquestra Clássica do Centro, além de autorizar visitas guiadas ao templo, desde 2008, organizadas pelo Departamento de Cultura. Em Cernache privámos muitas vezes em actividades culturais.

Escrever sobre Aníbal Pinto de Castro é uma tarefa quase impossível de realizar, porque a vastidão da sua obra e a grandeza da sua vida constituem um mundo exemplar difícil de transmitir ao papel. De prestígio mundial, manifesta na polivalência das suas actividades, no pluralismo humanista das suas acções, na frescura da sua forte personalidade e na intensidade das suas iniciativas, um manancial incontável de actos culturais, humanistas, sociais, humanitários e académicos, assentes no desempenho profissional e nas diferentes realizações que levou a efeito e que ficam para o futuro.

Sobressaem, também, neste imenso rol de saberes, de qualidades e de capacidades, o espírito alegre e comunicativo que expandia e animava reuniões, que dissipava nuvens pessimistas e que contagiava os auditórios em que falava. Por sua vez, o seu intenso e generoso amor às causas que abraçava, a par da frontalidade, sinceridade e coerência das suas atitudes e opiniões, marcava, também, uma força de carácter, que se elevava, com gratidão, à sua Universidade, sem esquecer a alma cernachense que o invadia e a saudade e amor que refulgiam ao aludir aos pais.

Coimbra, o País, a Cultura, as Humanidades e o Humanitarismo perderam uma invulgar personagem, que perdurará no espaço e no tempo pela herança legada ao Homem.