Todos já ouvimos falar dela, todos a sentimos, todos achamos que tem as “costas largas”: a crise económica está aí. Entra nas nossas casas diariamente, quanto mais não seja via TV, e faz questão de marcar a agenda.
Contudo, há aspectos que não percebo, de todo!!!
Desde logo as medidas propostas por um punhado de iluminados (podem ter umas “luzes”, mas penso que estarão fundidas, como diria um amigo meu…) que apontam para uma diminuição de salários. É certo que poderiam estar a referir-se aos salários mais elevados e, aí, até se poderia compreender a sua proposta, quanto mais não fosse por uma questão de exemplo…
Mas não. Como isso se aplicaria a eles, rapidamente se compreende, que a receita seria para aplicar a todos e, sobretudo, aos do costume, aqueles a quem se convencionou chamar “classe média” que, pelo andar da carruagem, ainda acaba por ser designada “classe em vias de extinção…”.
Também se propõem alterar as relações laborais.
Devo dizer que entendo que, de facto, poderia haver lugar a alguns ajustes nessa matéria. Mas questiono-me se num momento de crise económica, só a facilitação do despedimento merece honras de “proposta milagrosa”…
Aliás dou por mim a pensar: Se a crise não teve origem no mercado de trabalho, porque é que é aqui que todos os ditos iluminados acham que há questões a alterar? Não seria mais razoável propor correcções no mercado financeiro onde, dizem todos esses iluminados, esta crise teve origem?
Argumenta-se que é necessário recuperar esse mesmo mercado financeiro para que volte a haver estabilidade.
Pergunto-me, outra vez, muito basicamente: Então se é para voltar a estar como estávamos, não vamos retornar ao modelo que nos conduziu a esta crise? Não ganhamos nada com isso, parece-me…
Creio que as respostas têm que ser outras. Por exemplo, se nos tempos de hoje verificamos que a produção foi Este e as ideias para Oeste, porque continuamos a burocratizar projectos e a exigir garantias reais a quem é jovem, quer trabalhar e criar postos de trabalho, apenas porque se baseia numa ideia?
Será que não é chegado o tempo de perceber que é necessário valorizar as ideias? Tenho para mim que esse é um caminho (para não lhe chamar o caminho) que urge seguir.
Mais uma vez, o conhecimento é um activo essencial.
Mais uma vez, a universidade deve compreender o seu tempo e, como é regra, estar “à frente dele…”
Parece-me que o esforço colocado na licenciatura deve ser doseado, leia-se “menos dose”, aplicando-se esse esforço sobrante ao nível da pós-graduação, onde os mestrados e os doutoramentos se tornarão verdadeiros motores de desenvolvimento do País, sobretudo se frequentados por quem já está no mercado de trabalho. O horário pós-laboral para pós-graduações constitui, pois, uma ferramenta imprescindível ao desiderato equacionado, tanto mais que a designada “fertilização cruzada” entre professores, estudantes em exclusividade e estudantes no mercado de trabalho não deixará de produzir os frutos necessários para que, mais do que sair desta crise, possamos antecipar, prevenir e evitar quaisquer outras crises. Aproveitando a boleia, atrevo-me mesmo a sugerir que a universidade portuguesa deveria apostar em programas de doutoramento profissionais de base, como forma de criar massa crítica suficiente nas empresas e nos empresários portugueses. Este parece-me um caminho seguro para um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo que, queiramos ou não, julgo ser o que todos pretendemos…