Não há que fugir. Falemos da crise e das respostas que é preciso dar para a contrariar em Portugal.
A crise nasceu no sistema financeiro e propagou-se à economia de uma forma profunda. Podemos dizer que a Banca é a grande responsável pela crise, mas singularmente ela é também responsável pelas dificuldades em não se encontrar uma solução para esta grande recessão.
O sistema financeiro tem vindo a impor aos Estados com mais dificuldades, exigências e contratempos que têm evitado a sua recuperação rápida. A contracção do crédito tem conduzido à desaceleração do crescimento e à atrofia das economias mais expostas.
O FMI está à porta, à espera de ser solicitado a todo o momento para repor a estabilidade que tem sido quebrada pela crise no financiamento. A Banca Europeia tem a maior parte da dívida dos países ameaçados e simultaneamente tem uma calendarização da sua própria dívida muito apertada, o que a coloca numa debilidade em que podem surgir focos de falências.
Países com elevada dívida pública em percentagem do PIB – como a Grécia (130,2%), Irlanda (92,2%), Portugal (83,1%), Espanha (63,5%) e Islândia (121,6%) – e com deficits altos foram os mais atingidos. Portugal tentou reagir através de programas anti-crise que os mercados, entidades que nos emprestam dinheiro, consideraram insuficientes e a cada dia que passava elevavam a taxa de juro, sempre com a suspeita de que a nossa consolidação das finanças públicas não se produziria. Em pouco tempo duplicaram os juros que pagamos, sempre com a ameaça de que se nada fizessemos, agora de uma forma mais radical e dura, os juros continuariam na sua caminhada em alta. De facto, dos países mais ameaçados, apenas Portugal não tinha reduzido os salários.
Só o pacote de medidas a introduzir no próximo Orçamento pode dar sinais, agora fortes, de que há mesmo a intenção de por as contas em ordem e assim forçar a descida dos juros, algo que não podemos controlar, mas a que também não podemos fugir.
As medidas agora anunciadas são uma cirurgia complicada e dolorosa, mas só dessa forma os mercados muito pragmáticos as reconhecem como tal. Dos 5 mil milhões de euros que precisamos reduzir para passar de um deficit de 7,3% em 2010 para 4,6% em 2011, dois terços são feitos através da redução da despesa e um terço por aumento da receita. Caricato, quem apoiou os bancos para evitar maiores tormentas, vê-se agora nas mãos deles em dificuldades para sair da crise.
Se a reforma institucional orçamental no seio da União Europeia monetária é necessária para evitar novas crises, é também mais urgente um reforço do sistema de coordenação, controlo e supervisão internacional dos sistemas financeiros que evite que o incêndio deflagre como aconteceu nesta crise.