Um fórum onde a cidadania se aprende

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Foto de Carlos Jorge Monteiro

Fórum Romano de Aeminium. Por lá, há dois mil anos, a cidadania exercia-se, acontecia. O espaço é hoje o do Museu Nacional de Machado de Castro, em Coimbra, e o seu mais vivo testemunho é o extraordinário criptopórtico romano.

Inspirada num passado rico e num património singular, há 10 anos que a Liga de Amigos do Museu Nacional de Machado de Castro (AMIC) oferece a todos os interessados – crianças, jovens e adultos – a possibilidade de viverem o espaço e a sua história através de cursos de teatro intimamente vocacionados para a aprendizagem e a prática da cidadania.

Ao DIÁRIO AS BEIRAS, Ricardo Kalash, responsável pelo projecto desde o seu início, confessa-se numa altura de “reformulação do trabalho”, embora afirme uma intenção: “Este é um trabalho muito artesanal. Começou por ser assim, mantém-se assim e quando deixar de o ser, deixa de fazer sentido”, disse.

Mesmo porque, como salientou o actor e encenador que se iniciou no teatro universitário e participa hoje em diversos projectos na área artística, “se a transformarmos numa inicaitiva completamente industrial, ela perde o seu aspecto lúdico, de formação para a cidadania, do trabalho de sociabilidade com as crianças…”.

Trata-se aqui, como acontece há uma década, de trabalhar na linguagem do teatro em relação íntima com o espaço do museu e com as suas colecções. Porque, para Ricardo Kalash, que diz de si próprio, com orgulho e reconhecimento, ter crescido em museus – por via da mãe, especialista em museologia e responsável em diversos museus da região –, “o mais importante é dar às crianças a possibilidade de criarem uma relação de muita proximidade com o património, brincando, através do jogo”.

E, como salientou Ricardo Kalash, “a intenção da AMIC e a intenção dos responsáveis pelo museu é que este continue a ser um espaço de cidadania, como sempre foi”. Porque, afinal, “só estamos a reinventar, a dar novas formas a uma realidade que sempre existiu”.

E a justificação é simples como tudo o que é verdadeiro. Há coisas que só se conservam se forem praticadas e transmitidas: “A cidadania aprende-se, o respeito pelo próximo aprende-se, o julgar o outro igual aprende-se. E, sobretudo, aprende-se praticando”, diz o responsável pelos cursos de teatro da AMIC.

E não adianta pensar – como hoje cada vez mais acontece – que “deixamos estar as crianças e elas um dia tornam-se adultas, ensinadas e bons cidadãos”. Isto não é de facto assim, porque as “coisas e os valores que importam só podem preservar-se se passarem dos mais velhos para os mais novos”.

Em actividade sempre crescente desde 2001, o grupo de Teatro da AMIC tem-se afirmado tanto na área da formação, quanto na produção de espectáculos. Mas também, como propósito central, na divulgação do espaço do Museu Nacional de Machado de Castro e das suas colecções (por enquanto ainda em fase de reinstalação, após a profunda remodelação sofrida pelo edifício).

Na área da formação teatral, o grupo mantém uma oferta diversa, com a organização de cursos intensivos nas férias escolares da Páscoa e no início e fim do Verão. Mantém também em funcionamento, ao longo do ano lectivo, grupos de trabalho em diferentes faixas etárias. Cerca de 150 formandos passam anualmente pelos diversos formatos de curso, havendo aqueles que participam há quatro anos consecutivos e elementos do grupo que, de forma regular, desenvolvem trabalho desde a sua fundação.

A comemorar 10 anos, o grupo de teatro da AMIC tem agendadas apresentações ainda em Setembro (reposição da peça “O Novelo”) e em Dezembro (estreia da peça “A Caverna”).

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