Na elaboração de um pequeno documento de fundo sobre a problemática de orientação política deste país, com incidência particular na área da cultura e especificamente da música, uma mão cheia de pertinentes inquietações se nos põem, como ponto de partida para posteriores conclusões mais fortemente incidentes nas razões e nos porquês que nos levam à Orquestra Clássica do Centro de Coimbra e sua efectiva sobrevivência, enquanto instituição de produção e divulgação musical, escola de formação musical de novas gerações de músicos, interventora cultural no tecido mais denso da realidade produtiva cultural coimbrã e gestora financeira, também e ainda gestora cultural, do espaço que, há dois anos a esta parte, lhe foi cedido para sede e simultaneamente projecto de gestão cultural multimédia amplificado.
Uma vez criada, cada instituição vai se projectando e justificando socialmente de acordo com a dinâmica que consegue imprimir aos objectivos iniciais seleccionados nos seus estatutos e, de acordo com eles, assumindo um papel inequivocamente centrado nas populações a quem serve e para as quais foi dimensionada, por vontade da sua Assembleia Geral. E, imediatamente após a sua criação, um período de tempo se lhe depara para se afirmar no tecido onde se quer inserir, nele ser credibilizada e reconhecida.
Terminado este período que, sem barreiras fixas, se pode estabelecer num espaço temporal de cerca de 3 a 5 anos, o seu reconhecimento orgânico tem e deve estar consolidado. Segue-se-lhe um segundo período de prática continuada, onde a sociedade se vai certificar das sérias intenções institucionais da associação em questão e das suas reais capacidades para implementar princípios actuantes perenizados, maduros e inequivocamente contribuintes para o bem-estar das populações a quem serve e promove. Dir-se-ia que mais 3 anos poderão ser precisos para esta afirmação.
Finalmente, poder-se-á entrar num terceiro período, sem duração nem limite, onde a associação vai dialogar, de igual para igual, com as suas congéneres produtoras culturais, e vai responder normalizadamente aos hábitos de consumo artístico que entretanto incutiu na sociedade e que esta passou a fruir com regularidade e certeza. É óbvio que este desenvolvimento estrutural deve obedecer a princípios consensuais de quantidade produzida (para que o preço/evento esteja em patamares de rendibilidade aceitáveis) e nunca podendo, deste modo, ser questionável a qualidade dos concertos ou acontecimentos realizados.
Por seu turno, a sociedade, ao tornar-se espectadora assídua das produções culturais levadas por diante por estas instituições, torna-se necessariamente cúmplice do seu reconhecimento e, por maioria de razão, legítima defensora de mais este meio de enriquecimento cultural e social local.
Uma cidade vale e afirma-se por um conjunto amplo de valências, que vão desde o privilégio simples da sua inserção geográfica até à grandiosidade dos seus monumentos, da lhanura das suas gentes até ao superlativo sublime dos seus melhores cidadãos, desde a qualidade e quantidade de vida que permite às suas populações até ao reconhecimento, se possível mundial, da sua dignidade e superior formação cultural, política e moral!
Entender a cidadania como benefício de cúpula de todos estes valores deverá ser a tarefa ingrata de qualquer autarquia, não como atitude individual e unilateralmente decidida, mas tão-somente como estandarte e porta-voz inequívoco de uma maioria regional que nestes valores aposta, deixando a transmissão e audibilidade destas reivindicações, aí sim, aos seus representantes autárquicos directos e indirectos. (entendendo nestes, os organismos que, não sendo de gestão autárquica, têm nela um peso local e nacional manifesto (a Universidade de Coimbra, e depois, possivelmente, a Fundação Bissaya Barreto, as Águas de Coimbra, do Mondego, o Metro, etc.).