O estado da política

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Penso que só há um caminho para a política ou para a governação do país: é encararmos os problemas e apaixonarmo-nos por eles.

O primeiro-ministro (José Sócrates), quer se queira, quer não, quer se goste, quer não, tem-no feito. Uns dizem que é arrogante, sem credibilidade política, e peca por falta de carácter; mas, mesmo que, por voluptuosidade, alinhemos neste arrazoado intrincado de apreciação subjectiva, poderemos então descobrir, para nossa tristeza política, a existência de toda uma família de problemas-filhos: que alternativa, que alternativas?

Parece-me pertinente, no estado actual da política, recordar Walter Lippman, quando diz: “É no colapso da ciência liberal que radica o cisma moral do mundo moderno que divide, de um modo tão trágico, os homens esclarecidos”. Não me proponho, portanto, um tratamento completo do pensamento de um Medina Carreira, de um Belmiro de Azevedo, de um Ricardo Salgado. O meu gaiar é outro.

Decerto. É plausível admitir que o discurso de um primeiro-ministro (neste caso Sócrates) tende a ser optimista, pois caso contrário dificilmente seria agradável, muito menos compreensível. Um líder, seja político seja empresário, faz da motivação a arma do sucesso. Na verdade, é no seu optimismo que reside o ajustamento na sistematização da governação que, estou convencido, o obrigam a contra-gosto, a fazê-la dia-a-dia. Mas esta diferença, na medida em que é importante, está estritamente relacionada com o reajustamento para o médio-longo prazo.

Chegado a este ponto posso passar, sem demora, a uma análise do pensamento do putativo candidato (primeiro-ministro) líder do partido alternativo, ou, de qualquer modo, a breves comentários sobre o que tem dito. A jeito de digressão, porém, discutirei de imediato um problema que lhe assiste: o problema das definições e da “significação das palavras”. Pedro Passos Coelho tem sido uma fonte inesgotável da confusão e daquele tipo particular de verborreia que, quando aliada à preguiça intelectual, dá origem a uma perniciosa enfermidade política que é de tentar flutuar ao sabor da corrente, esperando que o outro perca as eleições e o poder lhe caia no regaço.

Já se percebeu que Pedro Passos Coelho trata os assuntos de Estado de forma nebulosa – Caso PT/VIVO/Telefónica é um negócio estratégico para o Estado mas é um assunto de accionistas, qualquer coisa como: em terra um avião é um automóvel, mas quando descola e no ar é uma plataforma aérea. Outro exemplo: a Caixa Geral de Depósitos é um banco que exerce a sua actividade e se movimenta no mercado financeiro e empresarial; todavia, para Passos Coelho, como só tem um accionista Estado, já não deve actuar livremente nesse mercado deixando o sector seguros e o da saúde, devendo financiar fundos de capital de risco, ou seja, ser gerida, tendencialmente, para acumular prejuízos – a pagar pelos contribuintes (impostos).

Como se isto já não fosse bastante e elucidativo, trata o que é vago como se fosse preciso: redução drástica das despesas do Estado. Onde, o quê, como? Não o diz de forma transparente mas insinua que seria com despedimentos na função pública. Acabar com institutos, departamentos do Estado, não é isso que acarreta?

Em suma: o que lamento é ter que dizer que sei que eles sabem que, cada vez mais, o interesse dos cidadãos pelas causas políticas tem vindo, pouco a pouco, a enfraquecer.

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