Negócios salva-vidas

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Quatro doentes foram submetidos a cirurgias na clínica I-Q-Med de Lagoa, no Algarve. Uma mulher para colocar lentes intra-oculares e outros três doentes para tratar cataratas. A clínica funciona há vários anos, oferece preços de saldo para os actos médicos que aí se praticam, segundo se anuncia no seu sítio electrónico, e oferece pacotes promocionais a autarquias, ajudando a tratar da saúde aos pobrezinhos. Intervém em diversas especialidades. Da oftalmologia à medicina estética há de tudo neste supermercado da saúde. De tudo, excepto licenciamento. E ficamos a saber que é possível abrir uma clínica privada e mantê-la a funcionar durante anos, sem que a entidade reguladora, a administração regional ou a inspecção de saúde de tal tenham conhecimento. E ainda ficamos a saber que há médicos, neste caso um holandês, outros haverá, que quais caixeiros-viajantes da saúde, operam de manhã na Holanda, para operarem à tarde no Algarve, devidamente auxiliados por um psicólogo que já antes de o ser auxiliava nas cirurgias.

E assim vai a saúde em Portugal. Cada vez mais nas mãos de comerciantes. Para que o negócio vá de vento em popa, já que matéria-prima nunca falta, há que destruir a concorrência do sector público, aniquilando o serviço nacional de saúde, limitando-o aos cuidados mais elementares destinados a cidadãos carenciados, paleio esdrúxulo que significa pobrezinhos. O mercado, essa entidade sagrada, tudo regula, pelo que também nos trata da saúde. Certas clínicas, devotas da livre concorrência, vendem actos médicos como se vendessem batatas. “Não seja operado a um olho, estamos em promoção, operamos-lhe os dois”, “aproveite agora, mastectomias a metade do preço!”. E a acolitar a cerimónia, não faltam grupos económicos e companhias de seguros que não se importam, e por que se importariam?, de fazer acordos com clínicas não legalmente licenciadas.

E ainda vamos com sorte. Com a falta de médicos e de outros profissionais, pelo menos no serviço nacional de saúde, e com o desinvestimento neste serviço público muito mais estará para acontecer. Afinal, quem nos tem governado está mais preocupado em aniquilar os serviços públicos que com outro fim.

Um jornal nacional publicava há dias a história de Maria da Conceição. A funcionária pública de 65 anos prestava serviço no pólo do Ministério da Agricultura de Aljustrel e foi integrada no quadro da mobilidade nas piscinas municipais de Castro Verde como nadadora-salvadora. Acontece porém que a funcionária de 65 anos, que antes fazia limpezas, não sabe nadar. Coisa pouca! Talvez se vá ainda a tempo de corrigir o lapso, que outra coisa não será, colocando-a a assistir às cirurgias do médico holandês…

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