Carlos Laranjeira em entrevista: obra Hidroagrícola do Baixo Mondego tem de ser concluída

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Carlos Laranjeira é um dos orizicultores do Baixo Mondego que, ao longo de 32 anos, abraçou o associativismo, a nível regional e nacional. Ao fim de 32 anos na Associação de Orizicultores Portugueses (AOP), 16 deles enquanto presidente, decidiu dar o lugar a outros. Embora preocupado com o futuro, acredita que a agricultura ainda tem futuro no Baixo Mondego e no país.

 

Trinta e dois anos é muito tempo, como diz a canção. Valeu a pena?

Também lhe podia responder com um ditado… quando há grandes objectivos na vida, vale sempre a pena. Há 32 anos quem conhecia a orizicultura nacional. Quem sabia que o Baixo Mondego tem dos melhores bocados de terra para o arroz. Só nós, os que por cá batalhavamos

E o que mudou?

Hoje discute-se a orizicultura ao mais alto nível. E o Baixo Mondego passou a ocupar um espaço nobre por direito no contexto da produção nacional. Como já não há um homem de má memória chamado Jaime Silva, é muito mais fácil construir qualquer coisa em agricultura neste país e, nesta região.

O arroz tem futuro no país? e no Baixo Mondego?

Ao nível do país, se não fosse o desastre Jaime Silva, estaríamos muito melhor, estruturalmente e economicamente. Ao nível do Mondego a minha grande preocupação é o futuro. Se pensarmos só na terra, água e clima, tudo vai bem. A estrutura fundiária com o microfundio e ocupações paralelas à agricultura provocam um alheamento e uma desunião que pode ser fatal.

Porquê é que Jaime Silva é de má memória?

Não deixou construir e devolveu milhões de euros que não são recuperáveis e que não só prejudicaram a agricultura, como todas as actividades paralelas. Destruiu a estrutura do Ministério da Agricultura fazendo com que o actual ministro e a sua equipa se vejam confrontados diariamente com situações dramáticas, por injustas, com os agricultores. Ainda há agricultores com as verbas comunitárias por receber referentes a 2008/2009. Uma casa agrícola, por mais pequena que seja, é uma empresa com deveres e obrigações a cumprir.

Acredita que este ministro pode dar a volta à situação?

Embora lentamente, pelas dificuldades estruturais que herdou, tenho que reconhecer que é um verdadeiro senhor, uma pessoa empenhada e competente e que está a fazer tudo ao alcance para resolver problemas e situações gravíssimas da nossa agricultura.

Dizem que é um dos melhores clientes desta equipa ministerial. O que o leva tantas vezes a Lisboa?

Não me importo nada de ser apontado como o melhor cliente que o Ministério tem em termos de exigências e de contribuições para resolver os problemas. Os agricultores portugueses foram abandonados durante demasiado tempo e precisam de vozes que se façam ouvir. E nem sempre as informação que chegam a Lisboa são as mais correctas.

Mas esse “benefício da dúvida” em relação ao ministro é generalizado?

Eu acredito que é um sentimento geral. É claro que há dúvidas, há receios, há protestos porque os agricultores estão verdadeiramente cansados.

Acha que poderia ter feito mais ao longo destes anos?

Poderiamos ter feito mais se a agricultura portuguesa não tivesse tido um Jaime Silva e, antes deles, muita gente com responsabilidade no Mondego a atrapalhar em vez de ajudar.

Também teve responsabilidade na Obra Hidroagrícola enquanto presidente da Associação de Beneficiários. Que balanço é possível fazer?

A Obra Hidroagrícola do Baixo Mondego avançou significativamente no período em que esteve Cavaco Silva no Governo e que tinha o ministro Arlindo Cunha na Agrocultura e Álvaro Amaro como secretário de Estado. Depois veio um deserto de acção que atrasou a evolução da agricultura, mas muito mais o sector da orizicultura na medida em que as zonas mais fundas, não economicamente reconvertíveis, continuam a fazer arroz com imensas dificuldades como é o caso do Pranto, do Fojo e do Arunca. Entendo que neste momento, não se faz tudo o que é desejável, mas faz-se o possível. Mas o Mondego precisa de mais. A obra tem que se concluída rapidamente.

Mas na prática ainda se pode falar em agricultura portuguesa?

Claro que sim, embora seja uma agricultura a várias velocidades. A do regadio que se tiver um bom emparcelamento, rega e drenagem, é rentável. Uma de sequeiro que é de susbsistência e de manutenção ambiental devidamente sustentada. E temos os nichos de “mimos” que vamos procurando afirmar no mercado, como os queijos, os cabritos, entre outros.

Porque é que decidiu abandonar a vida associativa?

A minha decisão tem a ver com o ‘saber sair” que é para mim muito mais importante do que o saber entrar. Infelizmente, sempre que entrei é porque havia dificuldades. Agora temos um ministro e uma equipa dialogante preocupados com os agricultores. Por outro lado, a minha saída proporciona a entrada de gente que andava mortinha para entrar. Sabe que hoje, já tem prestígio ser dirigente da AOP. Mas a minha saída não é uma rendição ou um abandono dos meus companheiros pois continuarei disponível.

Os protestos que liderou valeram a pena?

Se valeram. O que seria da orizicultura nacional se não tivessem sido controladas as importações, por exemplo. O que seria da agricultura do Baixo Mondego se não tivessemos lutado por uma obra que, embora com muitos defeitos e atrasos, criou condições. Um aplauso para todos os que souberam levar o seu protesto para a rua. Mas também para a GNR e para a PSP que souberam, sempre, compreender as nossas posições.

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