Lembra-se da pasta medicinal Couto? E do restaurador Olex? Mas há também a farinha 33 e os chapéus de chocolate da Regina. Se os nomes lhe evocam imagens familiares, então não pode deixar de se sentir de regresso a um passado que é o seu, num espaço recentemente aberto ao fundo das Escadas do Quebra-Costas, na zona histórica de Coimbra.
Para quem passa, a caminho da Sé Velha ou da Universidade, turistas quase todos, sobretudo agora, no estio da cidade despida de metade da sua gente, as duas montras são dois chamarizes: das faianças verdes de couve à farinha Predilecta, passando pelo “fado” anunciado num retrato fiel, a juntar Amália, a diva, a Virgílio Teixeira, o galã.
E entra-se, é claro. Porque a curiosidade faz-se maior que a pressa que se leva. E, já lá dentro, descobre-se um país de outras décadas, em formas, grafismos e embalagens… E a saudade assalta, pois assalta, é inevitável… quando se descobre que, afinal, tudo o que se vê (bem, quase tudo) é para venda.
Nascida do “gosto” e do “risco” assumido por dois jovens licenciados em Design Multimédia na Covilhã, Universidade da Beira Interior, ele, José Luís Gonçalves, com raízes em Bragança, ela, Ana Luísa Lages, regressada à sua Coimbra, a Companhia Portugueza corresponde a uma aposta que parece ter sido certeira.
“Quisemos que fosse um espaço pequeno, por uma questão de proximidade, também porque gostamos de receber as pessoas, nomeadamente aquelas que vivem na Alta, que entram e vêm contar-nos a sua história”, confessa José Luís Gonçalves à reportagem do DIÁRIO AS BEIRAS.
Sentir-se em casa das avós
Verdadeiramente, para lá da evidente oportunidade de negócio que o espaço é em primeiro lugar, o que os dois jovens quiseram “foi que as pessoas se sentissem em casa… dos avós”. Aliás, como confessam, “essa foi a nossa primeira inspiração”.
Trabalhando ambos na área do design multimédia, começaram a interessar-se por “este tipo de produtos”, desde logo “em termos gráficos”, com a “embalagem, a forma como comunica, o conceito”.
Depois, veio a colecção de alguns produtos, que compravam ou que traziam da casa das avós (mas avós urbanas, dos anos 50, uma geração que viveu ainda no Estado Novo, mas que fez a transição para a Democracia, já com as inovações e a concorrência de alguns produtos estrangeiros). E, de repente, surgiu a ideia: porque não juntar os produtos todos num espaço?
A instalação na zona histórica da cidade, a fazer a ligação entre a Alta e a Baixa, espaço comercial por excelência, não foi por acaso. “Sempre foi nossa intenção investir nesta espécie de revitalização em dose dupla”, confessa José Luís.
Nem as pastilhas gorila…
O público alvo, esse, é igualmente diverso. É aquele que recorda com saudade um tempo que pensava já esquecido de algumas das suas “marcas”, mas é também aquele a quem essas “marcas” já pouco ou nada dizem.
“Nós ainda brincamos ao pião, ainda saltamos à corda… Mas hoje já não é assim”, diz José Luís, recordando um episódio recente. “Um destes dias, entrou uma jovem que foi vendo as coisas e dizendo que não conhecia isto, nem aquilo. Até que chegamos às pastilhas gorila… que também não conhecia!” O facto é que o espanto acabou por se “diluir” nos 17 anos da menina…
Mas há também a surpresa inversa: “quem imaginaria que muitos turistas sairiam daqui como uma vassoura de pé alto para levar no avião?”.