Um intervalo no Verão!

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Em pleno Verão, os textos de opinião querem-se curtos, sobretudo para quem os lê. Por Portugal, não há novidades de Verão, excepção feita, talvez, à decisão de Pedro Santana Lopes deixar o PSD. Os incêndios, os tiros no pé do Bloco de Esquerda, a inexistência política do próprio PSD, a governação planeada para que o próximo Orçamento de Estado volte a passar, não são novidades.
Sobre Pedro Santana Lopes, penso que, apesar de ser uma ideia amadurecida por ter sido refletida várias vezes, ele não conseguiu perceber razões políticas para que o tenham preterido em favor de um companheiro militante que revela tantas dificuldades em articular uma ideia estratégica para Portugal, para além da “refundação” do regime. É isto que eu penso que ele pensa, sem nunca ter falado com ele. Não teve mais paciência e também não quis fazer especiais comunicados nem informar os seus seguidores de sempre porque, penso eu, primeiro não quer mesmo prejudicar o seu ex-partido de sempre, e, segundo, está a fazer o que a sua consciência política lhe ordena. Podem apontar-lhe mil defeitos, mas, disso sou testemunha, ele tem um pensamento político estruturado para a sociedade, para a economia e para o Estado. Talvez outra coisa seja aplicá-lo, mas isso não é discussão que eu pretenda participar.
O outro apontamento que não sendo novidade, é sobre a reflexão séria sobre o Estado e o modo como os cidadãos deverão ser servidos em troca dos seus impostos. Refiro-me a uma notável entrevista dada pelo Professor José Fragata, nome maior da cirurgia cardiotorácica em Portugal, dada à Revista do Jornal Expresso na semana passada. Aquele médico de 65 anos faz um retrato completamente transparente sobre o Serviço Nacional de Saúde, sem nenhum filtro ou condicionante política, digno de ser lido por cada um de nós cidadãos, longe da conversa intoxicada que nos chega à hora dos telejornais. Entre outras informações, fala , desde logo , da sua especialidade e do facto de não haver 5 milhões de euros para investir numa unidade cardiovascular e torácica, que poderia responder a mais cerca de 500 doentes, todos os anos. Fala do SNS e da sua exaustão, onde obviamente vão faltar recursos pela redução da carga horária semanal de 40 para as 35 horas, que conhece muito bem o atual Ministro e as suas ideias, pelo que conclui que se nada é feito, é porque foi engolido pelo sistema, obviamente. Quando lhe perguntam se fosse Ministro o que mudaria, ele responde de um modo completamente desconcertante, do alto da sua renomada sabedoria e dos seus 65 anos, que é como quem diz, de forma totalmente livre: passo a citar “ é muito importante assumir que o SNS deve passar a Sistema Nacional de Saúde, para incluir os privados, perceber a cobertura que podemos dar, criar um grande seguro de saúde público, fazer os médicos e os prestadores escolherem um lado ou outro, articular o SNS com o setor social, pôr os hospitais a funcionar.
Não sei se o problema da Saúde é só financiamento, e aqui estou com o Ministro das Finanças. Este Centro Hospitalar (Lisboa Central) tem um orçamento de 500 milhões de euros, mas as administrações estão tolhidas. A saúde precisa de mais liderança, mais gestão e menos política.” Para terminar, este é o médico que sempre que morre um dos doentes no seu serviço, escreve uma carta de condolências às famílias porque diz que isso é o mínimo que se lhes pode dar quando confiam numa equipa. Vale a pena ler para perceber melhor a discussão, porque, como diz o Professor Fragata, “o SNS é fantástico, mas não é possível mantê-lo com um Estado que é estático.” Podemos , agora, retornar ao Verão.

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