Opinião: Uma cidade ao contrário

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Acabam de ser divulgados os resultados do Academic Ranking of World Universities, que classifica e ordena as 500 melhores universidades do mundo. Com grande surpresa e desapontamento, verifica-se a exclusão da universidade de Coimbra desse conjunto, no qual, felizmente, permanecem outras quatro universidades Portuguesa: as universidades de Lisboa, do Porto, de Aveiro e do Minho.

A descida da universidade de Coimbra no ranking resultou, sobretudo, do menos bom desempenho no que respeita aos resultados da investigação, concrectamente do número de publicações nas revistas Nature e Science e de artigos citados, mas também da performance per capita, isto é, da pontuação ponderada de todos os indicadores, dividida pelo número de professores a tempo inteiro.

Está, portanto, em causa, a qualidade e a quantidade da investigação e do conhecimento que se produz, que parece não estar ao nível das 500 melhores universidades do mundo, quatro das quais portuguesas.

Rankings deste tipo podem não ter especial rigor nem relevância, mas ferem o orgulho, inquietam o espírito e acentuam a percepção de decadência da cidade. Só faltava que nos falhasse, também, a nossa universidade!

A verdade é que a estratégia política seguida há vários é errada e as consequências estão a surgir. Coimbra acomodou-se à condição de cidade exclusivamente universitária, abandonou a indústria, abandonou os sonhos e o desejo de crescer, de existir. Tudo, em Coimbra, depende da universidade e a cidade morre em tempo de férias. A cidade não está, por isso, preparada para ajudar a sua universidade, numa altura em que a crise demográfica está a ter um forte impacto no número de estudantes, o contexto económico do país é de austeridade e a investigação científica depende cada vez mais do financiamento privado.

A falta de estratégia e a progressiva decadência de Coimbra não podem arrastar consigo a maior, a mais significativa e a mais antiga das suas instituições. É preciso unir esforços e querer, genuinamente, mudar de rumo, porque o futuro é já ali e as facilidades tecnológicas permitirão, a curto prazo, a redução ainda mais drástica do número de estudantes residentes na cidade em tempo de aulas, sem que exista um conjunto de ofertas que os cativem a permanecer, a querer ter experiência da cidade.

Sem alunos não há professores, não há funcionários, não há arrendamento, não há comércio. A economia pára, o desemprego sobe e a pobreza instala-se. Sem indústria e sem dinamismo empresarial, não há alternativa ao abandono da cidade, ao acentuar da perda de população que se vem verificando há já alguns anos.

Neste quadro de emergência, acredito que todos quantos estão mandatados para decidir e executar, aos vários níveis, serão capazes de se unir e, de mãos dadas, trabalhar para o objectivo comum de salvar Coimbra desta morte lenta. Coisas simples como limpar e cuidar das ruas e dos jardins podem começar já a ser feitas e, com toda a certeza, nesse ambiente mais agradável, surgirá uma nova luz que recolocará Coimbra no patamar de importância e relevo de outrora.

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