Opinião – Pina Manique

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Sempre se procurou dar ao nosso Portugal o título de “Jardim à Beira Mar Plantado”, mas agora como o escrevia há quase 100 anos, Eduardo de Noronha, “os seus montes apresentam-se, no momento, tão despidos de arvoredo como o bíblico calvário.” Antes tinha, escrevendo sobre perseguições que: “António José, o mais novo dos seus irmãos, não excedia os oito anos. Faz as primeiras letras e as humanidades com brilho. Matricula-se em cânones na universidade de Coimbra. A sua veia poética e o seu talento mais se desenvolvem na namorada o Mondego. Estuda a sociedade, observa os ridículos, vergasta-os com epigramas, os seus versos são lidos avidamente. A irreverência, relatada pelos milhares e espiões ao serviço do atento tribunal, levam-no uma primeira vez, em 1726, às mesmas masmorras onde jazera sua mãe” ( 1 )

De facto, sofremos a má gestão do território que alguns senhores do mando foram impondo no nosso país e em particular nas nossas florestas: Fizeram-no através da manipulação das consciências, enviesando sempre qualquer saber, popular ou científico, para que no final tudo batesse certo nas contas da finança e errado nas contas de um povo martirizado, mas previamente anestesiado para que não desse pela tramoia.

Aconteceu que, com a queda do Marquês de Pombal em 1777, se implantou a Ditadura da Estupidez, ficando encarregue Pina Manique de dar alguma ordem ao País, onde governava D. Maria I, entregue aos caprichos de uma aristocracia que, trinta anos depois, mal os Generais de Napoleão se lembraram de invadir Portugal arrumaram as trouxas e rumaram o Brasil, fazendo dele um Reino e depois um Império.
Quando partiram deixaram Coimbra à espera da crueldade e ganância dos invasores e logo que estes também partiram, Coimbra renasceu com resiliência científica, que devemos entender como resultado da Reforma Pombalina que dará sempre novos frutos, incluindo nestes a Revolução de 1820.

Agora que a matemática, o saber das ciências naturais e da medicina nos prometem um mundo maravilhoso, eis que chega a ciência económica, adulterada por gente da finança, como resultado de más políticas. São vociferadas estas como manipulação por gente incoerente. É aquela que só quer do mando a possibilidade de fazer o mal, e sempre sem que ninguém veja quem o fez inicialmente.

Assistimos por isso este Agosto a imagens dantescas sobre as praias algarvias, foram tal como as vimos no ano passado no nosso Pinhal/Eucaliptal, deixando mais uma vez campos escalvados e restos ardidos de arvoredo e que, por isso, não matarão fome a ninguém por muitos anos.

Gabam-se os governantes de agora que não houve mortos. Só feridos. Mas isso não basta aos que ficaram pobres ou pelo menos mais pobres.

Queriam também melhor política.

( 1 ) Eduardo de Noronha – Pina Manique: O Intendente de antes quebrar…, Livraria Civilização, Porto, 1923, 263 e 245-246.

 

Aires Antunes Diniz escreve à segunda-feira, semanalmente

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