Todos os dias sou confrontado com faltas de dotações de verbas que são necessárias ao funcionamento de escolas, em particular de universidades, laboratórios de investigação, hospitais e demais instituições assentes em pessoas com capacidade científica excecional. São as que deixaram de ter hipóteses de criar ciência e cultura.
Aconteceu antes com “o grande José Anastácio da Cunha, do pintor Vieira, do escultor Machado, e de tantos varões insignes, cuja memória, pelo culpável desleixo e incúria dos seus compatriotas, fica sepultada na terra que os viu nascer, e entre conterrâneos, que conhecendo apenas o valor do que possuíram, depressa esquecem perda tão pouco sentida”1 .
Acontece agora com muitos jovens, que caem numa teia venenosa de impossibilidades. São as que fazem com que não tenham bolsas nem empregos nem carreiras profissionais. Seriam estas as que lhes permitiriam não só sonhar como também realizar os seus sonhos, transformando as suas qualidades ou seja potencialidades adquiridas em concretizações que os seus esforços justificam. E assim, todo o futuro que foram sonhando como realização pessoal lhes é negado.
De facto, o capitalismo, tal como funciona atualmente, vai impondo regras através de decisões políticas pela quais a Finança, mesmo que funcione mal ou até pessimamente, tem sempre o seu resgate garantido, canibalizando tudo o que a cerca. Não deixa este modo viver e trabalhar todos os outros, incluindo a juventude que só quer viver. Mostrariam se pudessem trabalhar quanto vale no mundo real da cultura e da ciência, melhorando, até, com o seu funcionamento a Natureza.
De facto, desde que se iniciou este Século XXI, assistimos a perdas de emprego qualificado e à precarização das vidas dos homens e mulheres nos variados percursos profissionais, incluindo aqueles em que a estabilidade na carreira profissional é condição essencial para o autoinvestimento na formação. E tudo isto tem como objetivo baixar os custos desta geração bem preparada e deliberadamente mal empregue.
Consegue até este capitalismo baixar os salários e as pensões, dizendo que isso é necessário à sobrevivência das empresas e …dos países martirizados e empobrecidos pela corrupção. De facto, se olharmos para trás, vemos como a corrupção, a imprudência dos banqueiros, o oportunismo dos políticos que os protegeram, etc., etc., ….criaram condições para que paradoxalmente largas áreas do nosso território se desertificasse e, por fim, ardesse de forma impiedosa para os que sobraram neste territórios martirizados pela lógica a Finança que desvaloriza tudo o que não seja dinheiro e, agora, mesmo esse nada vale se medirmos o seu valor pelo juro pago pelos bancos aos que ainda poupam.
Ameaça agora este capitalismo sem capital, mas que altera todas as regras, tornar negativos os rendimentos do capital que alguém consiga aforrar. E assim todas as regras tradicionais de uma economia assente no trabalho ficam e estão pervertidas.
Aceitamos tal coisa?
1 Annaes das sciencias, das artes, e das letras, tomo I, Julho 1818, p. 36