O executivo da Câmara da Figueira da Foz tem vindo a efetuar uma recuperação notável da sua dívida autárquica, que poderá atingir no final deste ano os 17 milhões de euros, que contrastam com os 62 milhões de euros de há nove anos; mas como há mais 25 milhões de euros de dívidas de empresas municipais, o equilíbrio financeiro desta autarquia ainda é uma miragem… Só que o que já foi feito merece ser reconhecido por quem considerar que até as dívidas públicas devem ser pagas, opinião não partilhada por um dos mais mediáticos políticos de que há memória, criticada então por parecer descabida, mas que, por vezes, pode expressar uma verdade relativa.
Mas, seja quem for que governe, deve ponderar muito cuidadosamente antes de adjudicar obras e outros empreendimentos, mesmo imprescindíveis, e não assumir os que desequilibrem contas públicas para além da capacidade de o Estado vir a honrar todos os compromissos já assumidos.
Na Figueira, uma oposição autárquica suave criticou aquela recuperação, por entender ter sido feita à custa da sua Câmara não ter investido em áreas sensíveis, mas não votou contra a mesma, ultrapassando divergências políticas naturais entre quem em certa altura detém o poder, e os que o perderam, ou jamais o possuíram. Ainda bem! É que os políticos nunca deviam esquecer que, ao governarem a “coisa pública”, terão de procurar o equilíbrio das contas de administrações locais, regionais e centrais, e gerirem tudo com o maior rigor possível, tal como decorre das leis.
Tendo a Câmara da Figueira da Foz melhorado as suas contas, deve agora aliviar as contas dos seus munícipes, residam estes na terra durante todo o ano, morem nela apenas nos dias em que trabalhem, ou passem o tempo que puderem na praia. É que todos suportam, há muitos anos, elevadas taxas municipais sobre bens essenciais, como abastecimento de água, e tratamento e eliminação de resíduos urbanos, que pagam a uma empresa privada que, por concessão pública, presta serviços executados anteriormente pelos Serviços Municipalizados da Figueira da Foz.
A propósito, face à importância do turismo para a Figueira da Foz, deve uma Câmara que lucra demais com taxas urbanísticas, e outras, como as turísticas, e que cobra demasiado em IMI, ter a figura de “consumidor não residente” nas faturas de água, saneamento, recolha e tratamento de resíduos sólidos urbanos? E deverá “uma cidade que é uma praia”, penalizar quem aí tenha habitação secundária? E terão a certeza de estar a aplicar – devidamente -, taxas tão polémicas?
A praia da Figueira da Foz já esteve na moda, e até já foi considerada moderna, mas tem vindo a perder fulgor. Para inverter esta tendência, que não é recente, houve quem endividasse a Câmara para criar um “oásis” que tem vindo a desfalecer, por falta de verbas para o manter. Hoje, estão por esclarecer as causas da morte recente de muitos “patos selvagens, nesse tal oásis”. O que faz inquirir se será miragem acreditarem “outros patos”, que não sendo “bravos”, são bem maiores e numerosos, que um dia, esta autarquia controlará um demasiado extenso areal que não pára de crescer, e que até então, a Câmara implementará muitas medidas, para o valorizar devidamente.
Muitos dirão que é tudo uma questão de haver fundos para lançar investimentos muito vultuosos e que onerarão gerações futuras, enquanto outros, como eu, dirão que, sem os mesmos, as novas gerações, que terão de pagar muitas outras faturas, não terão, na Figueira da Foz, grande futuro! É que, afinal, são sempre os “patos do costume” que pagam tudo, desde os investimentos mais necessários, aos maiores desvarios dos que desgovernam o que é de todos nós. Mas certamente que tudo estará previsto nos planos de quem tem o dever de prestar contas, não só ao “nosso” Tribunal de Contas, mas também ao “seu” povo, que lhe deu um terceiro mandato consecutivo.