Desequilíbrio preocupante: O que ocorreu na cimeira dos G7 no Canadá foi uma rutura sem precedentes entre os EUA e os seus aliados, nomeadamente os europeus. Isso é muito significativo especialmente para a Europa, que está colocada perante o fortíssimo desafio de tomar o destino nas suas mãos.
O problema é que a Europa não tem liderança e não é forte a sua união. Angela Merkle (que admiro, por pensar que é dos poucos líderes nacionais com visão de longo prazo) percebeu agora com clareza o enorme erro que foram os últimos tempos desde 2008-2009, em que as dificuldades evidentes de vários países europeus deveriam ter sido usadas para reforçar o espírito da UE. A ação disciplinadora e até divisionista que se observou, apesar de ter um racional económico e financeiro, não teve nenhum racional político e muito menos resultou numa Europa mais forte.
E isso agora era muito importante.
A rutura foi também planetária, pois Trump, sem nenhum tipo de ponderação, baseado numa ideia dos EUA como centro do mundo, que tudo pode e que tudo determina (bem à imagem de filmes fantásticos com super-heróis, o que parece ser o tipo de o divertimento adequado para um ser humano com a idade mental que aparenta ter o Presidente dos EUA), sem se preocupar com o papel dos EUA no mundo livre, deu o dito-por-não-dito e passou a querer regular, com as suas regras, o mercado internacional. A reação não se fez esperar, ao ponto de a conservadora e muito ponderada China ter apelado ontem a todas as nações do mundo para “… tomarem ações conjuntas que visem por fim ao comportamento ultrapassado e regressivo dos EUA e defenderem com firmeza os interesses comuns da humanidade”. Esta posição, sem precedentes, da China, mostra bem a escalada muito perigosa que esta posição da administração americana está a provocar, fazendo com que certos países, muitos deles tradicionais amigos dos EUA, afirmem que não querem entrar numa guerra de comércio, mas sentem que têm de tomar uma posição muito forte.
Ora, sendo uma grande parte da economia americana fortemente internacionalizada, será fácil de perceber que um dos maiores perdedores de uma eventual escalada numa guerra comercial será, necessariamente, essa parte mais dinâmica, tecnologicamente muito avançada e exportadora da indústria americana.
Quando o mundo está numa situação tão complicada, com a emergência de conflitos regionais que realçam os antigos fantasmas das nacionalidades, com a incapacidade de acolher migrantes e com a incapacidade de definir projetos políticos que tenham objetivos civilizacionais à frente dos económicos, Donald Trump resolve demonstrar que não tem a menor capacidade de liderança e não entende o mundo em que vivemos.
Isto quer dizer que dois dos grandes espaços económicos do mundo, os EUA e a Europa, que foram no passado recente uma garantia de liberdade e de paz, estão em sérias dificuldades para assegurarem esse papel de equilíbrio. E isso sim é muito perigoso.
1929: uma lei de 1929 obriga os funcionários públicos à aposentação compulsiva quando atingem os 70 anos. É o caso do Professor Manuel Antunes, que se vê forçado a deixar o serviço de cirurgia cardiotorácica que fundou e lidera nos HUC. Ora, pela excelência do serviço, pelos seus resultados e pela sua importância para o SNS, penso que esta regra, que tem os seus méritos relacionados com a renovação, merecia estar dotada de mecanismos que permitissem fazer face a situações verdadeiramente excecionais. Na verdade, com tudo isto perde o interesse público, pelo que era essencial que o Estado, por um lado, corrigisse as suas leis adaptando-as aos tempos modernos e, por outro lado, percebesse que as suas regras, quando aplicadas sem ponderação, podem prejudicar a generalidade dos cidadãos, o que é um contracenso.