“Sim”: João Farinha lança primeiro disco em nome próprio

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Foi com o pai, menino ainda, que João Farinha entrou no mundo fascinante do fado de Coimbra, tendo privado com alguns dos nomes maiores da canção coimbrã da segunda metade do século XX. Foi um amor que ficou, para a vida, e que voltou a acender-se assim que vestiu o traje negro de estudante da mais antiga universidade portuguesa. O fado está-lhe no sangue e Coimbra corre-lhe nas veias. O que não é difícil perceber num percurso que, em 20 anos de carreira, conta mais de uma dezena de discos e alguns projetos emblemáticos em torno do fado que aprendeu a amar mais ainda pelos corredores que levam à Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra (AAC): dos Aeminium ao grupo Coimbra, até, claro está, ao seu Fado ao Centro.

Agora, o cantor e compositor, prepara-se para lançar o seu primeiro trabalho em nome próprio, mesmo que, como faz questão de sublinhar, este seja partilhado com os amigos que o têm acompanhado ao longo de toda esta década, na música e no projeto no qual apostam para levar a mais gente e mais longe o fado de Coimbra: “Sim”, João Farinha & Fado ao Centro.

Lançamento a 25 de maio

O lançamento do CD está marcado para 25 de maio, nas diversas plataformas online e na FNAC. O trabalho – composto por 14 belíssimos temas, feitos com as palavras de alguns dos grandes poetas da língua portuguesa, de Fernando Pessoa a Antero de Quental, passando por Miguel Torga, David Mourão Ferreira, Florbela Espanca, Eugénio de Andrade, Mário Cesariny – será depois apresentado numa semana de “exclusividade” na Rádio Amália [http://www.amalia.fm/radio-online/].

Para 15 de junho, está marcado o concerto de apresentação de “Sim” – que foi buscar o nome ao título de um poema de Ricardo Reis –, na antiga igreja do Convento São Francisco, numa parceria Fado ao Centro com a Câmara Municipal de Coimbra. Neste concerto, o público terá acesso a uma edição especial de lançamento do CD. Seguem-se concertos de apresentação no CCB (Lisboa) e na Casa da Música (Porto), com uma digressão nacional programada para os meses de novembro e dezembro. Ainda antes, em setembro, João Farinha & Fado ao Centro vão levar o fado de Coimbra à Escandinávia, com passagens pela Dinamarca, Suécia e Noruega.

Um “sonho antigo” concretizado uma dezena de discos depois

Em 20 anos de carreira, com mais de uma dezena de discos editados, este “Sim” é um “sonho antigo”, confessou João Farinha em entrevista ao DIÁRIO AS BEIRAS. “A tradição do fado de Coimbra, depois do 25 de Abril, fez-se sobretudo em projetos em grupo, ao contrário do que acontecia antes, com nomes como Luís Goes, por exemplo”. No ressurgimento das tradições académicas, “os grupos acabaram por ser as estruturas mais importantes no renascimento do fado”, exatamente a realidade que o cantor encontrou quando entrou no universo do fado, na AAC, nos anos 90, passando pelo Schola Cantorum, o coro masculino da Secção de Fado da AAC.

E foi então que percebeu que aquilo “era exatamente o que queria fazer”, tendo criado o grupo Aeminium, com dois amigos, em anos decisivos que se prolongaram até 2004. “Foram anos de ouro para o fado de Coimbra, com uma grande proliferação de grupos. Havia a necessidade de criar coisas novas e de experimentar. A ligação à academia foi fundamental. Foram tempos que marcaram profundamente”, explicou.

Seguiu-se outro projeto decisivo: convidado por Pedro Lopes e Ricardo Dias, integrou o grupo Coimbra, a surgir com “a intenção clara de dar um contributo através de originais, um salto em frente”. Em paralelo com o Aeminium, foi tempo de dar ainda “mais largas” à veia de compositor.

Mas o caminho apontava já ao que haveria de ser o projeto central da sua carreira e, a um tempo, de uma importante viragem no fado de Coimbra, a apostar na profissionalização dos seus promotores e intérpretes. Surgida a oportunidade de criar o Fado ao Centro, em 2010, refere, acabou por se dedicar “somente ao fado de Coimbra”. Naquela que, então, passou a ser a sua casa, pode continuar o trabalho que vinha de antes, mas agora “partilhado com a gestão do espaço e do projeto”. Rodeado dos amigos com quem partilha o projeto desde o início – Luís Carlos Santos e Luís Barroso – e a quem se somam nomes como Hugo Gambóias, Luís Pedro Madeira ou José Rebola [Anaquim], João Farinha aventurou-se então pela edição em nome próprio.

“Reuni alguns temas meio perdidos do grupo Coimbra, fui buscar originais do tempo dos Aeminium, reuni os temas que, por alguma razão, me diziam mais, juntei algumas coisas novas que entretanto fiz e pedi a colaboração de um músico pelo qual tenho uma grande estima e admiração, enquanto músico e enquanto produtor, o Luís Pedro Madeira”, de quem eu já conhecia o trabalho nos Pensão Flor e nos Belle Chase Hotel, nos anos 90. “Começámos a trabalhar, produzindo tema após tema. E o trabalho cá está. Um disco que reúne a qualidade de best of com uma primeira obra”, assegura, reconhecendo o paradoxo. Este é um trabalho que marca, definitivamente, um percurso singular no fado de Coimbra. “É um disco de que eu gosto e que espero que chegue ao coração das pessoas”, diz João Farinha.

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