Opinião: Educação nímia

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Os últimos acontecimentos políticos mostraram como mais Educação não significa melhores comportamentos cívicos, atingindo com a marca da ignomínia alguns atores da política e da justiça, mostrando como mais instrução apenas significou crimes mais refinados e mais impunidade. Refutam-se assim as mais acerbas críticas à Educação dada pela Universidade em 1821, que no dizer de Francisco Solano Constâncio, era:
“Não só a educação em Coimbra é nímia e escusadamente penosa e longa; é ainda incompleta, e muitos ramos dos conhecimentos humanos ou não são ali ensinados, ou o são tão incompletamente, que tanto monta; e, salvo em Matemática, muito mais palavras que coisas de lá trazem a mente recheada os Doutores que mais se distinguiram.”1 .
De facto, muitos ainda associam melhor educação a melhores comportamentos, mas isso depende em muito do meio familiar e social em que cada um está inserido. Neste meio social encontramos clubes de futebol, partidos, jornais que constroem redes de cumplicidade e de negócios que permitem e favorecem situações de impunidade e de compadrio, que fazem florescer sentimentos de que tudo é permitido. Há até sindicatos, cujos dirigentes pedem aos seus patrões autorização para lutarem pelos direitos dos colegas que devem defender. Não admira por isso que, ao mais alto nível partidário, alguns façam dos seus lugares instrumentos de enriquecimento através dos favores que vendem a bom preço.
Também quanto ao poder judicial, vemos que alguns juízes, já bem conhecidos por o terem já feito, vão vendendo sentenças convenientes, copiando comportamentos típicos do futebol que, quase todos vão fazendo por esquecer. E só para que possam atingir os altos graus de adrenalina perante as jogadas, que acompanham com muitos amigos, bebendo todos muita cerveja nuns cafés ou clubes de bairro ou aldeia. E os juízes pertencem também a estes universos sociais, não havendo da corporação a que pertencem qualquer censura ou sanção visível que os impeça de continuar a prevaricar.
Não nos podemos admirar agora com esta catadupa de factos pois no passado também já ocorreram e a imprensa e os comentadores, encartados ou não, foram sempre opinando e desculpabilizando os prevaricadores, obedecendo aos seus donos ou a partidos dominados por gente que não merece confiança nem respeito.
Muitos se afastam por isso da Política, confundindo e atribuindo algumas perversões comportamentais a todos os que fazem política honestamente.
Mas, não o devem fazer pois permitem assim mais impunidade, pois assim castigam os homens de reta intenção, que fazem da Política um modo pragmático de construir um Mundo Melhor.

1 Ideias sobre a Educação da Mocidade Portuguesa nas Ciências Físicas e nas Artes in Solano Constâncio: Portugal e o Mundo nos primeiros decénios do século XIX, Antologia Organizada por Maria Leonor Machado de Sousa, Arcádia, Lisboa, 1989, p. 392, publicado nos “Annaes das sciencias, das artes, e das letras” em 1821.

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