A Baixa de Coimbra mete dó. O encerramento de estabelecimentos comerciais sucede-se a um ritmo assustador. Só desde o início do ano, encerraram dezasseis lojas. Loja que encerra compromete os estabelecimentos vizinhos, reduzindo o potencial de eventuais clientes. Para além de causas exteriores à cidade – a crise económica que atingiu profundamente os micro e pequenos empresários, a clara diminuição de poder de compra, a fiscalidade, e outras questões -, há razões de ordem local para a tragédia que se vive. Coimbra foi invadida por médias e grandes superfícies. Numa cidade de média dimensão, há estabelecimentos dos grandes grupos económicos, que até oferecem estacionamento gratuito, por todo o lado, em zonas centrais e residenciais, com horários de funcionamento quase contínuos. Ao contrário das cidades europeias que regulam os horários do comércio com rigor e remetem as grandes superfícies para as periferias, por cá vale tudo. Os grandes grupos económicos alcançaram enormes benefícios e facilidades. Abrir grandes superfícies comerciais é fácil, é barato e dá muitos milhões.
Mas não é esta a única razão para o abandono da Baixa. Os comerciantes e os raros moradores queixam-se da falta de higiene e limpeza, da degradação do edificado, da sua desertificação, da segurança. Mas temem, com razão, que à boleia da justa necessidade de se intervir na Baixa, avance desenfreadamente o fenómeno do alojamento local e da “gentrificação”, a expulsão do centro dos actuais moradores, idosos e de baixos rendimentos, substituídos por gente rica. Este é um fenómeno que pode estar para acontecer, dada a paixão de fundos imobiliários e da banca pela requalificação urbana. Requalifique-se, mas previna-se. A Baixa tem de ter gente. Os actuais e novos moradores. O turismo em estilo toca e foge, do souvenir, não é suficiente e sustentável.
Recentemente, a CDU interveio na Assembleia Municipal apresentando um conjunto de propostas para a Baixa que passam pela criação de parques de estacionamento periféricos gratuitos, reforço do transporte público, aquisição de prédios, reabilitação ao serviço dos munícipes e não da especulação, redução do IMI e de diversas taxas, reforço da higiene e limpeza, obras para o novo tribunal na Baixa, a permanência de serviços públicos na Baixa, etc.
Os eleitos da CDU contactam regularmente os munícipes. Em ronda recente, os comerciantes apresentaram imensas reclamações e propostas. Demostram, porém, um enorme desalento. Muitos estão em estado de indignação, mas também de descrença e desânimo. Outros não desarmam. Todos contestam a ausência da Câmara. “Onde está o Presidente?” – perguntou um comerciante da Baixinha – “Será que tem medo de falar connosco?”. Enquanto outro informava que há já muitos meses lhe pediu uma audiência sem que tenha qualquer resposta. “A Câmara é um bunker. Cá fora a Baixa vai morrendo. Até quando?” – ouviu-se.